CONSERVAÇÃO DO PRÉDIO ESCOLAR ("Ninguém quer o bem público que não está de acordo com o seu." — Jean-Jacques Rousseau)
Demorei um pouco na sala depois do último toque da sirene, alguns alunos estavam esperando meu visto no caderno, quando um barulho forte de cadeiras e mesas batendo nas paredes da sala vizinha. Levantei-me assustado, quis proferir uma repreensão, mas eram as funcionárias da escola limpando a sala. Enfileiravam as mesas e empurravam com bastante força até amontoarem-nas à parede, desocupando o chão para limpá-lo. Empurravam novamente para o outro lado para desocupar o outro espaço que ainda precisava ser limpo. Então, a dança forçada das carteiras fechava aquela minha tarde de perturbação escolar. Quando elas perceberam que eu estava incomodado, agravaram a técnica, porém, continuei observando e continuaram arrastando mesas e cadeiras; o descuido era tanto que caiam frequentemente os móveis, fazendo uma explosão como a de uma bomba, porém não podiam se atrasar.
Voltei para minha sala, donde aqueles poucos alunos testemunhavam o paradoxal cuidado do bem público. Refletindo aqui, quantas vezes eu pedi a meus alunos uma redação sobre a preservação do patrimônio escolar! Era um trabalho intensivo, além de fazê-los escrever, ainda teriam concurso de cartazes envolvendo todas as disciplinas com o tema. A preservação dos bens físicos da escola é um indicador de prosperidade. Quanto tempo vai durar sua escola? O que você está fazendo por ela hoje?
Vi por muitas vezes também a coordenadora ensinando, a alunos displicentes, lições de bom comportamento, dizendo que não se pode riscar as carteiras, nem as paredes, e alguns até tiveram que lavar e polir sua mesinha. Sem a aprovação de seus pais, diga-se de passagem.
Sim, talvez elas fizeram aquele quebra-quebra para não ter que me pegar pelo o braço e jogar fora da sala, pois tinham tempo curto para fazer todo o trabalho de limpeza, e eu ali com aqueles meninos, na hora de ir embora. Visto isso, veio-me uma confusão mental, por que sempre a coordenadora vem às salas, pedindo aos alunos, para deixar as carteiras bem arrumadas e enfileiradas, sendo que os zeladores desmontam tudo imediatamente da forma mais desmazelada possível, para passar pano e fazer a limpeza? Essa é mais uma exigência sem sentido de quem briga por poder. A coordenadora não ensina nada para aluno, apenas vomita regras. Aprendi isso, naquele dia: Nem sempre, quem limpa, cuida! E quem tem que mostrar serviço o faz escravizando os outros com coisas inúteis. Mormente em se tratando do uso de bem público. E concordo com Chico Xavier: "Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja". Sujar é o emprego de alguns, e limpar é o emprego de outros. Se não houver criminoso, não há polícia.