Relatos de um futuro suicída
Minha cabeça se embaralha toda, os olhos pesam e se fecham. Por um minuto, sinto o amargo sabor da insanidade em meus lábios frios e trêmulos. Ao mesmo tempo sinto cada parte do meu corpo em êxtase, quente, entrando em ebulição. Cai algumas gotas do velho chuveiro queimado, direto no meu rosto. Cada gotícula vai percorrendo minha superfície arrepiada até chegar ao chão.
Respiro fundo, como se quisesse sugar pra dentro todo o ar daquele banheiro úmido, como se quisesse fazer parte daquelas paredes mofadas e com azulejos se despedaçando. Como se fosse me despedaçar com eles. Já despedacei, mas não por fora, pensei. Nesse momento tudo foi trincando até desabar. Ao fundo, o som The end, Kings of leon. Entre as gotas sem sabor que caiam do chuveiro foram se somando algumas salgadas, pesadas que escorriam sem que eu pudesse contê-las. Lábios mais frios. Gritei, tão alto e forte que pensei que incomodaria os outros, mas meus berros só eu escutava, estava gritando aqui dentro e só ali.
Soltei todo o ar, abri meus olhos. Além das gotas que já estavam ali escorrendo, minhas mãos pareciam suar, contrastando o gelado do chuveiro com o quente que a pele expelia. Meus pés não me obedeciam, se atrofiaram e entraram em colapso. Os gritos ensurdecedores continuavam a ecoar em meus ouvidos e, na garganta, sentia o peso desses gritos que só estavam ali e não saiam.
Desligo o chuveiro, pego minha toalha e me enrolo. Do banheiro para a cama. Sem ânimo, só desligo o som, mas os barulhos não param. Procurei de todas as maneiras desliga-los, mas não consegui. Então, pensei, me desligarei. E fui.