A Floresta Eterna
A brisa acaricia meus cabelos, em balanço. Tocando cada fio, sem me deixar fria. Parada no alto do penhasco, com o olhar sobre as luzes da cidade. Vivo à noite. Minha vida é metade de um dia. Durante todos os dias. Só porque tu existes: aqui. Espero tua lembrança. Da tua presença, antes ou depois desse momento. Porque o eterno se perde quando limitado ao tempo. Confusões fazem minha cabeça e percepção. Memórias milenares não cabem nesses minutos. Uma espera tão grande não pode valer a pena por tão pouco tempo. Viajamos pelos céus, lado a lado. Sobre a floresta em sua imensidão. Atravessando ponta a ponta do infinito e nos perdendo juntos em meio às nuvens. Não precisamos de rumo. Estamos onde queremos estar agora. Para sempre... Sinto um vislumbre da eternidade com uma única pessoa: estou no meu mundo. Se você existe, nada mais precisa existir. Só existem para servir à nossa aventura. Eu só existo porque você respira esse ar. O mundo existe para que nós estejamos juntos. Se assim não fosse, não haveria razão para existir. Aperto tua mão e penso se estarás aqui para sempre. Comigo. E, se um estiver, o outro também estará. Ou pelo menos estará olhando. Por uma eternidade permaneci te esperando, pelo destino, como a estrela que brilhava para ti. E você me esperava em água. Enquanto eu brilhava para que você me visse, você me refletia. Minha luz ia até o fundo dos lagos e observava cada peixe, cada alga, cada vida que morava em você. Caminhava no seu ser, percorrendo uma essência que só eu conhecia. E que a cada noite conhecia melhor. Meu calor morno aquecia cada gota sua e iluminava como em cristal. Porque eu também queria te sentir. Queria poder te sentir melhor. Te tocar e iluminar. Mas te encontrava somente ao anoitecer. Uma vibração, sutil, como música, nos embalava em fantasia. Porque era assim que era para ser. E foi assim. Era sempre assim. Até que milênios não foram suficientes. E eu desci e você se libertou. E nós nos encontramos. Vivemos em um misto de intuição do passado e memória do futuro. O presente era como devaneio. Era onírico. Era perdição em meio à realidade que não criamos. Vivemos o que esperamos pela eternidade. Dentro da floresta eterna, infinita no tempo e oculta da realidade. Cheiro de grama que a brisa traz ao topo do penhasco. Sons de animais pequenos vindos da floresta. Nós também somos mistério e resignação. Selvagens e frágeis. Espírito e consciência. Unos e distantes. Somos seres da floresta perdidos em seu exterior. Somos natureza que precisava amar. Éramos um separados. Agora, eu sou: nós. Se minha memória não te guardar, irei me perder para sempre. Porque existo para te manter vivo. A eternidade não mais existirá para nenhum de nós. Hoje estou parada à beira do penhasco, sentindo a brisa trazer o aroma de grama e de chuva. Seu perfume vindo de algum lugar. Dos céus, talvez (te procurarei lá, um dia). E agradeço ao vento por me trazer lembranças suas, que, peça a peça, tentam reconstruir o que se está indo por entre minhas mãos. Meu coração aberto, que se desintegra (pois metade era você). Mas estou meio sozinha. Porque metade de você se foi. A outra metade depende de mim mantê-la. Minha memória é sua guardiã. Nossa história foi registrada nos ares da floresta. Mas ninguém pode conta-la novamente a mim. Não ouso revivê-la sem ter você por inteiro. Metade da poesia era você quem escrevia. E espero, novamente, sozinha. Mas você está apenas em mim e em mais nenhum outro lugar. Em ninguém, porque só existíamos eu e você. Agora, que tudo se perdeu, não sei mais o que estou a esperar. Meu próximo estágio é o não-existir. Me pergunto, se, estando em minha lembrança, nossa história está se apagando. E você, estando em mim, estará se perdendo e se te encontrarei. Se tudo valeu à pena, qual o propósito. Não preciso perguntar. Não preciso de sentido para nosso destino. Não preciso de nada para te querer. Lembre-se: minha espera pelo impossível nunca tem fim.