Medalha de Ouro

Se a gente pudesse voltar quarenta anos no tempo, encontraríamos alguns estabelecimentos comerciais que sobrevivem até hoje em Poções.

É uma resistência ao modernismo. Vivem ali e não mudaram nem mesmo a concepção que vem junto com as novas regras de comércio. Imaginem se eles fossem seguir as atuais práticas econômicas e de mercado que hoje são impostas?

Assim é parte do comércio de Poções. Assim são esses comerciantes. Temam, são resistentes às mudanças e muitas vezes com o mesmo mobiliário. Mudaram, talvez, de dono. Passaram de pai para filho e vivem com o mesmo princípio, acreditando que isso é destino. Resistiram ao comércio de Vitória da Conquista.

Com essa visão, qual é o mais velho negócio comercial? Quem sobrevive e com qual tempo? Com a palavra, a Associação dos Dirigentes Lojistas de Poções – pensou nisso meu amigo André da Ótica? Que tal uma campanha para descobrir?

Mas, enquanto pensa, vou ajudando com uma relação de fatos, pessoas e estabelecimentos que são concorrentes a medalhistas de ouro. Fizeram as suas partes e continuam dando a contribuição para a boa Poções.

Me ajude a lembrar.

Relembro os estabelecimentos que nós chamamos até hoje de “venda”. A venda de Dahil nada tinha de parecido com os atuais supermercados com os caixas de códigos de barras. Aquela placa na praça é uma justa homenagem. Quem começou com esse negócio foi ele. A famosa venda tá aí, na mão de Celi, a que hoje se chama de Mercearia São Sebastião.

Havia alguma estratégia na localização dessas vendas. Cada uma explorava um lado da cidade. Os Alves Guimarães seguiram o mesmo caminho. A venda de Marcolino e Zé Leite explorava o lado sul e era localizada na esquina da praça da Igrejinha. Lá na rua de Boa Nova, Valmir Chaves, irmão de Davi, mandava no pedaço com a venda na esquina de quem ia para o campo de aviação.

Mais acima, na Rua de Morrinhos, Dó Baixinho resistiu o quanto pôde a manutenção da Vencedora de ASA (Alcides Silva Andrade, o seu pai)

Existiam três farmácias apenas. A Brasil de Dr. Ari, a Sudoeste de Olímpio Rolim e a Santana de Fábio Rocha. Quem resistiu? Fábio Rocha, cheio de saúde e não abandona a sua bicicleta.

Eram algumas padarias espalhadas. Na praça tinha a de Nilton Vasconcelos. A de Arlindo Cambuí era ao lado da casa dele, na saída para Morrinhos – o pão saia do forno direto para o saco, não havia balcão. Hoje, firme e forte, com a mesma qualidade do pão de Arlindo, João comanda a padaria junto a sua família que, literalmente, mete a mão na massa.

Com a música do filme “A ponte do rio Kwai”, o serviço de som da prefeitura abria as duas edições diárias. Tonhe Luz ganha duas medalhas: “A voz do Gaivota”, que fala até hoje, e pelo bar Gaivota, remanescente, depois de ter convivido com os bares de Duca/Jorge Dantas, de Mero e o de Arnóbio Andrade.

Fidelão carrega o nome dos Sarno pelo pioneirismo no comércio da região. Michele ainda segura a outra parte adjunta da família Sarno. A tradição dos antigos armazéns italianos é por conta de Marco Schettini, que segue as regras e o “jeito” de Fernandão. Os Magalhães sempre foram fortes na venda de ferragens - de Abel a Maneca, os meninos estão aí. O armazém Magalhães também é tradicional.

Não só o comércio deve ser lembrado. Passo pela área médica e pelo Hospital Regional que ficou bom tempo abandonado. Dr. Arthur Rolim carrega a bandeira da classe de médicos ligados à cidade e do tempo dos consultórios, a exemplo de Carlos Sampaio, Orlando Ventura de Matos e Antônio Libonati.

Não fica atrás a outra bandeira, a dos dentistas. Essa é de Irundy Dias. Na época, havia Humberto Mascarenhas e Dr. Plínio.

Imagine uma alfaiataria nos dias de hoje. Não tem mais. Alfredo, Arnóbio e Valter levam as medalhas dessa arte.

João mantém o negócio de tipografia que aprendeu com seu pai Batatinha. É do mesmo tempo da Tipografia de Seu Liquinho Macêdo. Vejo despontar o blog Sabendo das Coisas, de R. Macêdo, escrevendo fácil como o seu tio fazia muito bem.

Gasolina no centro de Poções era coisa do tempo de Brás Labanca. Miguel fez muito bem o seu papel e hoje a família toca o Posto Santa Luzia. Os Paladino resistiram até pouco tempo. Uma pena.

A Coelba também tem vez. Passou por muitas mãos. Acompanhou o crescimento da cidade com a instalação dos dois motores na usina. Foram os Leto, Nápoli e os Lago que mantiveram a luz acesa.

A Insinuante também assistiu a cidade crescer. Foi a loja 3 e começou como uma sapataria. Modestamente, o Banco do Brasil chegou em instalação alugada e, depois, comprou a pensão ao lado do antigo Banco da Bahia. Contratou uma grande carregadeira da Tratex, empresa que trabalhava na obra da BR-116, e derrubou o prédio antigo sob os olhares admirados dos conterrâneos para construir a sua atual sede, moderníssima para a época.

A oficina de rádio de Carlito tá lá, com Luciano querendo me vender um velho rádio SEMP, mais caro que um atual três em um com MP3.

Sem consertar carros, os meninos de Doca mantêm as portas abertas com seus comércios diferenciados.

Também tenho lembranças da família de Zilduardo Almeida e dona Lourdes nos balcões de carne quando ainda era barraca de lona. Medalha neles também.

Não posso deixar de mencionar a importância que a feira de Poções trouxe de benefícios. Foi a primeira concorrência declarada para os lojistas. Os mascates tiveram lugar. Desde aqueles tempos, já sabiam da existência dos produtos de segunda linha.

Mas, entre todas as boas lembranças, me vem a imagem da tenda de João Bonitin, com as cadeiras e tamboretes originais de madeira. O ambiente era tão bom que Deus resolveu passar lá e montar a barbearia no céu e ainda levou os tabuleiros de dama. As boas figuras do Beco dos Artistas também foram para lá.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 29/07/2007
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