Crônica Sobre Fulano

Tô no metrô. Tô cansado, trabalho foi puxado. A minha semana tá sendo esquisita. Sem inspiração.

Senta um senhor do meu lado. Ele já

estava reclamando antes, mas ignorei pois estou exausto. Não tenho dormido bem... Na verdade tô Voltando a dormir bem...

Ele senta-se ao meu lado. Continua falando. Nada contra, afinal as pessoas falam, tem boca, mas ele é do time do cutuque. A cada início de frase, ele me cutuca com o braço. Piora? Sim, piora! A cada cutuque e começo de frase, toda palavra com som de "S" ativa uma chuva de perdigotos contra meu rosto. É nessas horas que vejo a importância da barba.

Ele reclama da vida. Ele reclama do Temer. Ele reclama de sua neta adolescente,. Reclama do Tite, da Guarda Municipal, e, por Deus, reclama do preço do Inhame na Feira de Acari.

Eu tô tenso. Quero levantar sem ser indelicado. Tô com sono, se levantar irei de Vicente de Carvalho até Botafogo em pé.

Já estou na Central. Ele não parou de falar. Agora, após uma rápida história sobre seu vício em álcool e funo-de-rolo, ele disse que sente falta da esposa.

O metrô parou no túnel. Estão aguardando a regularização do tráfego, diz o piloto. Quem dirige metrô é o quê? Maquinista?... Agora ele reclama do metrô. Aí meu Deus!

Por fim estou na Glória. Praticamente o senhor veio falando de Vicente até aqui. Eu respondi com "Hum hum", "É fogo!", "É complicado", e algumas vezes com um sorrisinho sem graça.

Estou na estação Catete. Ele parece que vai se levantar. Ele se levanta e me estende a mão esquerda. Eu aperto suas mãos. Ele sorri para mim com seu sorriso amarelo e diz que Jesus me ama acima de todos os problemas.

Para minha surpresa ele não desce na estação. Na verdade, ele se senta ao lado de um jovem. Alguns segundos depois eu vejo o jovem passando a mão na face,limpando perdigotos que voaram contra ele. O senhor reclama da Dilma e do Temer.

Senti ciúmes daquele estranho senhor contador de histórias. Agora outra pessoa ouve sua história.

Eu desci em Botafogo. Ele continua com os problemas dele.

Mas eu... Eu que fingi o ignorar por quase meia hora...Eu fui inspirado escrever essa crônica.

Fim

(Inspirado em fatos de agorinha)

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 08/12/2016
Código do texto: T5846941
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.