UMA PIA EM MÁRMORE DE CARRARA
UMA PIA EM MÁRMORE DE CARRARA
Em Campinas existe um centro de Pesquisa, o CNPQ, próximo à Rodovia Campinas- Mogi Mirim. É um centro de excelência em comunicação, com empresas de ponta, instalações de primeira, etc. Eu era o engenheiro responsável e estava concluindo um dos prédios. Paralelamente aos trabalhos objeto do nosso contrato, éramos solicitados a executar pequenas reformas nas instalações existentes para adequá-las às necessidades das empresas que ocupariam os imóveis. Recém-chegado, fui apresentado ao arquiteto que supervisionava essas reformas. De saída o sujeito foi comigo a um prédios que precisava uma série de intervenções e me mostrou uma a uma. Era um conjunto de pequenos trabalhos que seriam executados de modo a atender uma empresa que iria ocupar o local. O fulano me passou uma série de especificações, me entregou os projetos da reforma e liberou o início dos serviços.
Desloquei uma equipe de para executar os trabalhos, e solicitei os materiais necessários, de acordo com os projetos. Havia um lavabo a reformar que o lavatório com bancada deveria ser trocado. O projeto indicava que a nova bancada seria em mármore Paraná. A pedra em questão é uma das mais caras do Brasil, normalmente utilizadas em obras de alto padrão de acabamento. Como o CNPQ possui instalações sofisticadas, nem questionei o especificado. Passados uns dias, o comprador me comunicou que o mármore Paraná estava em falta no mercado, indagando se era possível mudar o tipo de pedra da pia. Entrei em contato com o arquiteto que me indicou colocar mármore de Carrara em substituição ao mármore Paraná. Questionei se ele tinha certeza do que estava pedindo, e, até com certa arrogância, confirmou a substituição, e me enviou por escrito a nova especificação. Como se sabe, o mármore de Carrara é o tipo mais sofisticado de mármore, utilizado por Michelangelo em suas maravilhosas esculturas. Eu nem sabia onde encontrar material tão refinado e caro. Depois de vários telefonemas, descobri uma marmoraria de Aparecida que tinha um pedaço de mármore de Carrara, resto de um trabalho que executara a muitos anos, do tamanho que eu precisava. Ficou bem mais caro que o projetado. Aliás, muito mais caro. Dias depois, recebi a pia com aquela bancada linda em mármore de Carrara.
Enviei os valores a serem pagos para o superintendente de obras do CNPQ. Dias depois, fui convocado a comparecer ao escritório. Entrei na sala e o superintendente estava possesso, com minha relação de serviços executados em mãos. Ao lado, o arquiteto e o engenheiro da obra. Inquiriu-me, vigorosamente, quem havia mandado instalar uma bancada de mármore de Carrara em um sanitário comercial. Apontei o arquiteto e comuniquei que ele havia exigido mármore de Carrara. Pensei que o homem ia explodir de raiva.
“- Quer dizer que ele manda alguma coisa aqui?” “-Ele é o arquiteto.”, respondi. Aí o cara explodiu: ”-ARQUITETO? Quem disse que ele é arquiteto?”. Apontei para o engenheiro da obra: ”-Ele”. Virou-se para os dois e despejou uma bronca em altos brados. Perguntou ao falso arquiteto: “–Você sabe o que é mármore de Carrara? Sabe quanto custa essa pedra? Olha o preço, seu burro!”.
“Paulo esse cara não é arquiteto, é um quadrúpede”!
Aprovou os preços que eu havia apresentado. E a pia de lavatório com bancada de mármore de Carrara deve estar lá até hoje.
Paulo Miorim