Viajar é se despedir...
Por Gustavo Pilizari
Uma das coisas mais prazerosas que você pode fazer na sua vida é uma boa caminhada com vagar, observando, aleatoriamente, as vidas que passam por você e todas as arquiteturas despretensiosas que marcam uma cultura...
E digo uma coisa: a melhor forma de você explorar o seu “eu” interior e o “outro” é durante uma viagem...
Refiro-me a qualquer viagem!
Viagem à cidade ao lado, ao campo, vila ou fazenda; num destino nacional ou distante de seu eixo - internacional... o importante é ir além de seu espaço de conforto para você poder sentir sua carcaça... você é sua própria bagagem existencial!
Parece besteira, mas não é!
Poucas pessoas realmente sabem o poder de uma viagem, de um olhar fora de seu quarteirão, de sua cama e, além da visão oblonga da curvatura de sua xícara de café!
Atravessar mares e desertos, montanhas e cânions, enfrentar o calor de estralar ovos e o frio de congelar os ossos a ponto do xixi virar cubinhos de gelo... é algo maior, que vai além do próprio ato de viajar... é algo de desbravamento com a gente mesmo, de curiosidade desmedida por uma satisfação corporal e mental... é um último olhar...
É fácil entender: acho que por sabermos ser apenas uma poeira que deu certo no universo e, ao mesmo tempo, por termos noção de que sairemos de súbito deste palco chamado vida, algo nos faz querer viajar com a involuntária e inconsciente necessidade de se despedir de tudo...
Temos receio e medo de passar uma vida toda sabendo que fomos tão egoístas a ponto de não termos cumprimentado a vida existente nos diversos lugares deste planeta tão pequeno!
Antes do ato mecânico de viajar a gente quer, no fundo, se despedir: se despedir do iluminado sol, dos flocos de neve, da chuva calma, das flores sorridentes nos vastos jardins... a gente se despede de pessoas que nunca conheceu; no entanto, conhecendo, sabe que, possivelmente, nunca mais verá novamente... a gente se despede de lagos, rios e mares, atravessamos pontes balançando as mãos como forma de aceno àquilo que virá em seguida, mas, tão logo, deixando para trás coisas que talvez nunca mais vejamos... Viajar é se despedir... se despedir da gente mesmo...
Se eu pudesse deixar um conselho para as futuras gerações, eu apenas escreveria num livro de mil páginas a mesma palavra em letras garrafais: VIAJE!
Não importa o destino: ande despretensiosamente pelos corredores de paisagens quentes terrosas ou friamente depressivas, pois só assim você poderá ter sentido a vida em todas as suas formas, cores e cheiros... nada melhor do que sentir uma lufada de ar gelado nos pulmões, nada te dá mais arrepios do que tal situação: cada célula do seu corpo parece se abrir para receber a vida; é um aplauso corporal o qual ninguém poderá sentir por você, apenas você tem o seu corpo para usá-lo da melhor forma e, a melhor forma é viajando!
Caminhe pela vida, como se cada piscar de olhos fosse o último, baile pelas ruas das cidades ouvindo dentro de você aquela canção que mais gosta, esbanje um sorriso largo e veja como ser você é maravilhoso... comece viajando para sua cidade vizinha e quando menos esperar estará voando tal uma gaivota...
Se você pode voar, voe mais alto, plaine pela vida e percebe como do alto tudo é azul... e tudo também é uma despedida...