Do finalzinho da tarde de domingo

Tive tanto medo da solidão, acho que acabei dedicando metade da minha vida a fuga desse medo, que ao longo dos anos me sufocava sempre que eu via alguém indo embora, ou apenas a ameaça de alguém partir me fazia querer ir junto para qualquer lugar que fosse, apenas para não me restar só comigo mesma, tendo que sair a procura de companhia que me fizesse esquecer pelo menos por um curto período de tempo o vazio que eu carregava, enfatizado pela partida do outro, e o medo de permanecer só em uma paisagem na tonalidade de cor cinza, que é a cor que colore o meu drama, mas de qualquer jeito esse vazio era uma forma de companhia, daquelas que você quer que vá embora ao chegar. Hoje nesse domingo, eu soube que a gente sempre se acostuma, mesmo que possamos resistir, ir contra isso, tentar correr de nós mesmo, procurar apoio em coisas exteriores, até que aprendemos a conviver com a solidão, quando nada nos resta a não ser a conformidade. E, não sei se é porque hoje é domingo, e a preguiça é tanta que estou aceitando a minha condição de restar aqui sozinha tendo apenas a minha companhia, sem querer mudar isso, sei que a solidão não é viver só, nunca foi, você pode estar sem companhia alguma em determinado lugar que pouco importa, e se sentir a pessoa mais completamente bem acompanhada. Tenho preferido a solidão hoje, ando até gostando dela, ela não tem face, muito menos gostos semelhantes aos meus, não tem gosto, nem cheiro, ela é insípida, não dá para pegá-la e sair dançando por aí, não tem nada de encantadora, mas tenho me acostumado a ela, da melhor forma que encontrei, porque no final isso que fará diferença. O que ocorre é que eu não me sinto mais naquela procura inalcançável por alguém que preencha o que chamo de vazio, pelo menos hoje, nessa efemeridade do dia que vai se esvaindo, esse domingo embriagado de melancolia que vai me deixando, e não questiono isso, não procuro uma ordem para as coisas, não temo a segunda-feira, sei que está tudo se aquietando por aqui dentro, e como a Clarice Lispector nos disse uma vez: “A solidão é um luxo” e eu espero que ela esteja certa mesmo.

Anny Ferraz
Enviado por Anny Ferraz em 04/12/2016
Reeditado em 04/12/2016
Código do texto: T5843612
Classificação de conteúdo: seguro