A DISSIPAÇÃO E A BOA VONTADE.

O gosto pelo crime desmerece, violenta e degrada. Por vezes beira o vício - dissipação - quando nos colarinhos brancos. Nem se percebe, antes se defende a prática.

Se nada tem para escolher não escolha nada, combata tudo que não presta, mas não fique ao lado de quem não presta e a evidência escancara.

Vale à pena combater o erro? Dirão, mas o que é erro? Erro é o que se dirige ao crime que tem variada linhagem. Combatam-se todos, se tivermos o princípio de não negar o que é verdadeiro e evidente. A evidência diante da lógica incorpora a certeza. E a ciência logística é o norte da condição humana. Ou se vive a mentira ou se aceita a verdade.

Mas que não se combata o mal com outro mal nem se defenda de forma alguma o mal.

O MAL NÃO É NECESSÁRIO; essa a frase singela irrespondível deixada pelo grande São Tomás de Aquino. Meios e fins são extremos e "extrema se tangunt" somente para o bem, a boa vontade, só nessa possibilidade os extremos devem se tocar.

Crime e seu cometimento é ato complexo. Defender o crime ou eleger meios e modos de preservá-lo é doutorar-se no crime.

Viver essa demonização encontrará seus créditos no pagamento dessas dívidas.

“Paz na Terra aos homens de boa vontade (Lc 12,2 )”.

Os dias que atravessamos no mundo e em nossa nação trazem a clareza da falta de boa vontade. Está na vontade o direcionamento de toda a vida humana. A exteriorização da vontade é o ato volitivo manifestado no mundo exterior que muda o entorno e projeta o que queremos.

Por isso a norma de direito circunscreve condutas emanadas da vontade. Qual vontade? A que merece aplauso ou elogios e a que traz danos. É o que se chama aspecto psicológico-normativo em direito.

“De todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitavelmente, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser extraordinariamente más e daninhas se a vontade que há de usar destes bens naturais, e cuja constituição se chama por isso carácter, não é uma boa vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da nossa atividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa, nunca encontrará nesse espetáculo uma satisfação verdadeira, de tal modo a boa vontade parece ser a condição indispensável sem a qual não somos dignos de ser felizes.

(...) A boa vontade não é boa pelo que produz e realiza, nem por facilitar o alcance de um fim que nos proponhamos, mas apenas pelo querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si mesma, deve ser tida em preço infinitamente mais elevado que tudo quanto possa realizar-se por seu intermédio em proveito de alguma inclinação, ou mesmo, se se quiser, do conjunto de todas as inclinações.”

Emmanuel Kant, in “'Fundamentação da Metafísica dos Costumes”.

É preciso boa vontade para restaurar.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 03/12/2016
Código do texto: T5842778
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