Músicas orquestradas antigas do Rei

O homem entrou no bar antes das seis horas, quase á noitinha, antes da chegada dos habituês contumazes, antes que enchesse e começasse a zoada. Os garçons ainda estavam arrumando o local, e um empregado limpava o chão. Pediu uma dose de Theacher com gelo, era a marca de uísque estava á altura do seu poder aquisitivo. Na verdade, depois de algumas doses fica tudo igual, o Professor e o Chivas, o que vale é o efeito e o clima. Ficou ali bebericando e tirando o gosto com amendoim cozinhado que tinha comprado na pracinha. Pensava na vida, no que foi e no que não foi, no que foi e no que poderia ter sido.

Na terceira dose colocaram no som as músicas antigas orquestradas de Roberto Carlos. Baixinho, do jeito que gostava de ouvir. Ouvir e curtir. Curtir e relembrar passagens de sua juventude que tinha tudo a ver com essas músicas. Forava trilha sonora da sua juventude. Quando tocou Detalhes, ele se emocionou e cantarrolou baixinho a letra, rindo da parte que o Rei diz a ex-musa que não vá dizer o nome errado. Ouviu outras como Amada Amante, Esqueça, Sonho Lindo, Proposta e quando tocou Cavalgada ele relembrou um grande ex-amor e suas folias nas madrugadas. Mas aí o bar começou a encher e mandaram tirar aquela música de velhos e botar música sertaneja. Pediu a conta, pagou e foi embora. Voltaria com certeza no outro dia. Recordar é viver. Inté.