O BRASIL ENFERMO (30/11/2016)
Por Gecílio Souza (geciliop@terra.com.br)
Meu caro amigo leitor
Sem pretender ser birrento
Venho novamente instigá-lo
Sobre o denso e tenso momento
A nação brasileira vive
Um novo contexto cinzento
Novembro chega ao crepúsculo
Num dramático questionamento
Onde o cõmico se alia ao trágico
Em político acasalamento
Não bastasse o trauma da morte
Deste vinte e nove sangrento
Duas catástrofes num só dia
Põem em prova nosso alento
Na Colômbia um avião ceifou
A vida de um ajuntamento
De setenta e seis pessoas
Deixou o planeta atento
A mídia mercenária e macabra
Faz da tragédia seu sustento
No Brasil outra catástrofe
Noturno esquartejamento
Da combalida democracia
Desta vez no parlamento
O Congesso Nacional
Decretou o rompimento
Com o povo desta nação
Que cresce o descontentamento
A maioria dos senadores
Surda a qualquer argumento
Esnobou e debochou
Se achando dona do assento
Deu as nádegas ao país
Fez preleções ao vento
Mercadoria que se vende
Por cargos, bebida e alimento
Sessenta e um senadores
Sem pudor, sem constrangimento
Estupraram a carta magna
Agrediram o sentimento
Do extrato social
Recrudescendo o sofrimento
Ardilosamente venceram
Pela força, não pelo convencimento
Com a lógica parlamentar
Deram ao golpe prosseguimento
Reeditaram os anos sessenta
Com um pelotão truculento
Puseram o BOPE na praça
Pronto para o enfrentamento
Com gás de efeito moral
E pesado armamento
Spray à base de pimenta
Municiavam o policiamento
A praça dos três poderes
Retratou o distanciamento
Entre o povo e o poder formal
Preocupante perecimento
Do diálogo democrático
Que breca o descarrilhamento
Desta nação que se aproxima
Do humano embrutecimento
A crise civilizatória
Vem sofrendo agravamento
Flertando-se com o neofascismo
Num fiel alinhamento
Ao catatônico Donald Trump
Ao maléfico, ao odiento
Inimigos figadais
Do social engajamento
Desqualificam as reações
Criminalizam moviento
Sindical ou juvenil
Que veda o aprofundamento
Da pirâmide social
Onde o último pavimento
É ocupado pela elite
O mais estúpido segmento
Feriram a carta maior
O jurídico fundamento
Do Estado democrático
Que está em desmoronamento
Os direitos sociais
Prestes ao desaparecimento
A pobreza está de volta
Seres atirados ao relento
Medo e ódio alimentam a direita
Que sem qualquer arrependimento
Ataca as mulheres e os negros
Sabota-lhes o empoderamento
A homofobia e a misoginia
Constituem-se o divertimento
Da fétida elite perfumada
De alma em definhamento
A criminalização da política
É a plataforma do avarento
Desses João Dória da vida
Que visam ao enrequecimento
Destes o que nos restam
Vergonha e arrependimento
A quem lhes votou ou não
Pelo simples pertencimento
A certos espaços geofráficos
Que carecem de conhecimento
A desfarçatez nos debocha
Na ação, no pronunciamento
O cardápio legislativo
É jocoso, é nojento
A bancada evangélica
Viola todo mandamento
São lobos em pele de ovelhas
Farisáico procedimento
“Amam” a Deus, adoram o poder
O luxo é seu regimento
Seus discursos são bravatas
Estéril é o seu pensamento
Hipócritas e vingativos
Fiéis do doutrinamento
Se “opõem” às coisas mundanas
Mas têm forte envolvimento
Com as mazelas terrenas
São vulgares em seu aposento
Causam danos sociais
Com pneuma-envenenamento
Suas picadas são mais letais
Que a do animal peçonhento
Contaminam a cultura
Obstruem o desenvolvimento
Detêm altos saldos bancários
Mas são massa sem fermento
Insuflam a intolerância
Com gestos ou consentimento
Na TV propagam asneiras
Obreiros do arrebatamento
Ousam catequisar a nação
Com “bíblico” condicionamento
Estelionatários do sagrado
“Vestais” de odor fedorento
Constroem templos suntuosos
Às custas do empobrecimento
Das almas de boa fé
Que lhes garante o rendimento
Loteiam o “paraíso”
Eterno parcelamento
Empreendem coliseu “sagrado”
Mas de todo imposto isento
Presbíteros do pessimismo
Tripudiam o mortal sedento
Que busca paz e conforto
Para amortecer o tormento
Das viscissitudes da vida
Que a tantos é padecimento
Os cultores do “deus’ dinheiro
Cobram dízimo como provento
Poêm a culpa no miserável
Ou num satânico elemento
A quem eles chamam “diabo”
Que faz do homem instrumento
A nossa tragédia é contínua
Essa é a verdade, eu lamento!