Alta densidade

Sua sobrinha querida, que estava distante, completava poucos aninhos naquela data em novembro. O dia se iniciava claro, aberto e bonito. A primeira iniciativa ao acordar, comer, além de outras “basiquices” humanas antes de ir para o trabalho, foi gravar um vídeo expressando sua saudade e seu amor para aquela criaturinha, com a seguinte promessa: “o amor ainda vai dominar o mundo”. Seguiu sua rotina. O dia era importante. No início da noite estava marcada uma apresentação de um músico, especialista querido de suas influências. Aquele o qual a simplicidade de suas letras reflete os sentimentos mais íntimos. O dia de trabalho foi produtivo. No entanto, durante as duas noites anteriores havia sentido “aquele mal”. O aperto no peito, a dor de cabeça e a febre. Sempre anunciando o imperfeito. Lógicas irracionais. Sabe-se que sim, mas não o que. Durante o show, estava intensa, bebeu cada som que saía impecável da sanfona e cada frase invadia sua alma e sua memória. Aquela sensação parecia o descarregar de um travesseiro em que se veem as plumas erguendo voo. Saiu daquele ambiente musicalmente aconchegante mais leve que aquelas plumas que voavam na sua imaginação. Mas o sentimento não passava. Ao retornar a sua residência, caiu leve e feliz em seu pouso. Algumas horas depois, ainda antes de dormir, numa simples e pequena mensagem, sentiu a dureza da concreta realidade e certeza da perecível vida. A defunção e a dor haviam atingido seu cenário novamente. Assim como o dia, a noite seguiu em claro. Pois dormir, era inatingível naquele momento.

Ubirani
Enviado por Ubirani em 30/11/2016
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