- Só sei que foi assim

Não riam, mas a verdade é que adoro ouvir mentiras de um profissional no assunto, um mentiroso criativo, capaz de enredar a gente contando seus causos cabeludos. Desses experts na arte da mentira que sabem que nós sabemos que ele está mentindo e aí, pasmem, é que capricha enfeitando o maracá da mentira.

O maior contador de causos mentirosos que conheci foi Senastião de Manoel Cristovão, de Pesqueira. Lembram-se do Chicó, do Auto da Compadecida de Ariano Suassuna, que quando alguém lhe pedia explicação dobre uma cabeluda ele respondia na maior calma: - Não sei, só sei que foi assim. Pois bem, Chico não amarrava o cadarço das chuteiras de Sebastião. Seria comparar Dadá Maravilha com Pelé.

Juntava gente nos bancos da Praça Dom Josê Lopes, em Pesqueira, para ouvir seus causos. O interessante é que ele era vacinadorde gado, da secretaria da agricultura. Então às vezes em meio a narração de um causo chegava alguém e lhe dizia: - Bastião, doutor Moacir mandou dizer que você fosse vacinar o gado. Ele interrompia o causo ia vacinar o gado e, mais tarde ou no outro dia, continuava a mentira na cena que interrompera. Era um craque.

Repito: adoro ouvir mentiras de um craque na matéria, como era o caso de Sebastião. O contador de mentiras tem que imitar as vozes, fazer mungangas, ser um ator. Ouvi-los é uma diversão arretada. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 29/11/2016
Código do texto: T5838786
Classificação de conteúdo: seguro