A INTOLERÂNCIA E O HUMANO
A INTOLERÂNCIA E O HUMANO
Por Gecílio Souza
01. A realidade é travêssa
Implacável e tirana
Furtivamente confunde
Embaralha e engana
Reversível, persistente
Nebulosa e leviana
Pune os bons, absolve os maus
Numa macabra gincana
Protege os fortes, expõe os fracos
Com a conivência palaciana
Maniqueísta, hipócrita
Satânica, mas puritana
Se lembre que todos nós
Compomos a raça humana
02. Confesso que estou exausto
Desta trama bruta e insana
Repleta de atrocidades
Dignas da selvagem savana
Ornada de perfume e ouro
Podre em cada filigrana
Mitiga a alteridade
Revoga a vida com gana
Hostiliza a diversidade
As preferências ela espana
É retoricamente sagrada
Mas efetivamente profana
Se lembre que todos nós
Compomos a raça humana
03. Marcada pela incerteza
Esta época anti-vergana
Estigmatiza as escolhas
Em cerimonial sacana
Venera a estupidez
Ao injusto se irmana
Nutre o apartheid social
Prega a união hitleriana
Nega o gênero feminino
Com petulância marciana
Se irrompe contra os negros
Numa indignidade mundana
Se lembre que todos nós
Compomos a raça humana
04. O espetáculo midiático
Da sordidez se emana
Gesta e difunde a inverdade
Com vingança caninana
Homicida de reputações
Mata sem bater a pestana
Sepulta vivos os desafetos
Moralmente os esgana
Cinismo é o distintivo
Da desfaçatez urbana
Misógina e homofóbica
Jaz o ódio onde há membrana
Se lembre que todos nós
Compomos a raça humana
05. Elite esnobe e pedante
Que aqui vive numa Toscana
Luxo produtor de lixo
Genoma da muquirana
Seu odor é repelente
Oriundo da “barbatana”
Perfume ludibria o olfato
Tapeação soberana
Revoga a vontade geral
Por uma quartelada tucana
Golpeia a carta maior
O farisaismo é seu nirvana
Se lembre que todos nós
Compomos a raça humana.