Fidel, minha vizinha e a Chapecoense
Boa tarde meus caros 23 fiéis leitores e demais 36 de quando em vez. Na sexta retrasada eu disse que iria (e fui) num retiro e que na sexta passada eu estaria (e não estive) aqui para contar sobre ele. Mas, aproveitando as férias, resolvi ficar mais uns dias no retiro e só saí ontem dele. Logo, não apareci aqui e deixei para vir hoje dizer como foi.
Todavia, as mortes que ocorreram no final de semana e ontem atropelaram o assunto do meu retiro e se impõe serem comentadas nessa crônica: na sexta-feira, Fidel Castro; no sábado, a minha vizinha; e, hoje de madrugada, a equipe de futebol brasileira Chapecoense.
Todos mortos em circunstâncias diferentes e ensejando reações diferentes. FIDEL, "comandante em chefe" da paradigmática Revolução Cubana, morreu de velho, aos 90 anos. Pode até ter morrido de uma doença, mas, aos 90, toda a morte é de velho mesmo, de um jeito ou de outro. Fez história, o barbudo. Um dos grandes personagens do século XX, sem dúvida. Cubanos choraram e homenagearam em Cuba, cubanos riram e comemoraram nos EUA. Controversa a sua biografia e a avaliação dela.
Já a minha VIZINHA, cinquentona, se cuidava: tomava certinho os remédios, comida saudável e só na hora e na quantidade certas, fazia exercícios, dormia bem. Entretanto, teve um infarto fulminante no sábado à tarde e se foi deste mundo. Deixou o marido e os filhos. Os parentes, amigos, vizinhos e clientes lamentaram sua morte inesperada e repentina. Fora daqui de Charky City, não era conhecida e, portanto, sua morte não ganhará os noticiários nacionais nem internacionais. E nem falarei sobre a vida dela aqui que vocês não iam se interessar mesmo, mesmo sendo iguais a ela enquanto sujeitos históricos e sociais.
Hoje está em todos os meios de comunicação do mundo o acidente aéreo com o TIME DE FUTEBOL BRASILEIRO, que iria para uma final de um campeonato continental na Colômbia. Só três jogadores do time sobreviveram, o que, inversamente, pode ser considerado um milagre. Sei muito pouco do time, apenas que era de uma cidade do oeste de Santa Catarina chamada Chapecó, que conheço porque, quando fiquei aí em Porto Alegre com o Silva, a gente viajou uns dias de carro pelo oeste do Brasil, passando por Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso a fim dele me mostrar a influência dos gaúchos pelo país, visto que nesses estados a colonização riograndense era grande, principalmente a oeste. E, realmente, tem muito CTG, churrascaria e estabelecimentos de serviços e comerciais como nome "Gaúcho" por esses locais: bar do Gaúcho, hotel do Gaúcho, lancheria do Gaúcho, borracharia do Gaúcho, farmácia do Gaúcho, e assim vai.
Inclusive haviam profissionais no clube, tanto jogadores quanto comissão técnica e dirigentes, que ou eram gaúchos ou foram ligados ao futebol gaúcho. Falo dessas coisas porque como passei um tempo por lá, o Rio Grande é minha referência quando falo do Brasil, ao contrário da maioria dos estrangeiros, que só conhecem o Rio de Janeiro.
Bom, Fidel despertou amor e ódio; minha vizinha, indiferença e desconhecimento; a Chapecoense, comoção internacional. O primeiro, foi o homem por trás de uma revolução popular; a segunda, uma pessoa comum daqui de Charky City; os terceiros, membros de uma equipe de futebol regional e nacional iniciando carreira internacional. O poder é controverso, a vida comum desinteressante e o futebol apaixonante? O fato é que as pessoas se comovem diversamente na política, ignoram a vida das pessoas comuns e se apaixonam por futebol.
Na verdade, quando você contraria interesses, é amado e odiado; quando você é incógnito, és indiferente para os outros; quando não contraria interesses e é conhecido, causa comoção. Nisso tudo, a única dor verdadeira, 100% natural, é a dos parentes e amigos. Nesse ponto, Fidel, minha vizinha e os profissionais da Chapecoense se igualam. O resto é a ideologia e a paixão da sociedade do espetáculo.
Detalhe: na internet, uma loja aumentou de 130 para 230 reais as camisetas do time acidentado. Ideologias e paixões à parte, esse mundo é movido a $$$.
Minhas condolências a todos os afetados.
PS - O nome da minha vizinha era Maja Ella.
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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.
Mais textos em:
http://charkycity.blogspot.com
(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina
Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)