Eu e minha micro reforma eleitoral
Em agosto de 2005 já a propusera na crônica de título comprido: “Psicologia, Democracia, Eleição, Reeleição e Gurinhatã-MG”.
Naquela época, a lenga lenga girava em torno de maturidade e democracia e o tanto que ela é indicadora de sanidade biológica, emocional e social.
Entre outras coisas, argumentava que tanto maturidade quanto democracia são processos: não são absolutas, não são impostas. São construídas em relações sociais, num ambiente propiciador: a existência de um percentual de pessoas suficientemente maduras, num clima sócio econômico relativamente equilibrado.
Uma característica da democracia é a representação. O cidadão elege outro cidadão que vai representá-lo na condução da coisa pública.
Mais uma propriedade é a alternância do governante. O eleito exerce a função por um tempo convencionado, depois, nova eleição, nova pessoa para administrar os bens coletivos.
Eleição é o mecanismo de escolha do representante e, ao mesmo tempo, é momento de manifestação do desejo do eleitor. O desejo tem dimensão inconsciente e deve ser por isso que eleição tem um quê de infantilidade, de irracionalidade.
A reeleição é invenção do processo eleitoral, justificada pela idéia que um só mandato não é suficiente para realizar os projetos da gestão.
Mas, reeleição pode ser vista, também, como regressão a um estágio infantil, onipotente, em que o representante se considera capaz de tudo realizar, tão importante para a sociedade, que merece manter-se no cargo e não abrir mão para outro. A reeleição contraria o princípio democrático da alternância de governante.
Gurinhatã-MG entrou na história porque seria onde se experimentaria um sistema político sem reeleição. Consegui dois entusiastas da idéia: o Zé Conte e o Jeová, no entanto não foi para frente.
Por coincidência, foi em Gurinhatã-MG que tomei a decisão de realizar a micro reforma. Estava na Fazenda no exercício de apertar controle remoto da televisão, quando me chamou a atenção uma reunião de deputados. Não me perguntem o canal, qual assembléia, nem quem são eles, não sei, só sei que argumentavam sobre lisura e honestidade na vida pública. Um deles falava do filho e arrematou seu aparte dizendo, (não ponho entre aspas por ser uma interpretação), que o tal ex ministro, era sabido, tinha fama de ladrão. De pronto, o colega retrucou: (Também sem aspas.) É toda a sua família. A imagem cortou e apertei o controle no off. Ai fui para a cama e voltei ao matutar. Fiquei indignado. O fé da puta do deputado xingou a mãe do nobre colega de ladrona. Isso não posso suportar. Foi a gota d’água. A partir de então, deletei o instrumento da reeleição do meu sistema eleitoral.
Não voto mais em candidatos a reeleição!