REDES SOCIAIS

As redes sociais são filhotes da popularização das comunicações por meio eletrônico que surgiram nos últimos anos.

Até bem pouco tempo, se considerarmos como fenômeno histórico, a comunicação se dava via correio, principalmente por carta e eventualmente por telegrama.

Depois veio o telex, aquelas máquinas mal-assombradas que trabalhavam sozinhas durante a noite e que eram o terror dos vigilantes solitários em prédios onde funcionavam as agências bancárias mais importantes das cidades grandes.

Lembro-me bem da implantação, no final dos anos 70, das máquinas de retransmissão automática de mensagens (SICRAM) que além de transmitir em tempo real, eram capazes perfurar fita de papel (tipo alfabeto Braile), de fazer várias cópias das mensagens ou de recuperar textos antigos.

Mas esses modelos de comunicação foram ficando ultrapassados porque com o volume cada vez maior de informação, as comunicações demandaram meios mais eficientes tanto para a veiculação quanto para a visualização das imagens das notícias, e a radiofoto deu seu lugar para a tela do computador, que cedeu seu lugar para o tablete e mais recentemente para os telefones (desses que têm a letra i antes do nome) e que fazem tudo.

Fazem até ligação de voz, como os de antigamente.

Porém, apesar de toda essa praticidade e urgência atuais, o ser humano ainda precisa de tempo para decodificar as mensagens recebidas, analisar esses dados frente aos seus conceitos e conhecimentos para então chegar ao posicionamento que melhor se adéqua com a sua maneira de ser, de pensar e de agir.

Então aquela avalanche de informação que parecia ser a “salvação da lavoura” para o entendimento global dos acontecimentos e suas consequências, por conta da urgência, perdeu profundidade.

Sabemos quase nada sobre muita coisa e, talvez, isso seja a causa da formação de grupelhos fechados dentro das redes sociais, onde o indivíduo permanece enquanto comungar do pensamento geral.

Qualquer dissidência será punida com a cassação do seu registro na comunidade, no ciclo de “amigos” ou de páginas de apoio a essa ou aquela forma de pensar.

Há que se registrar que todos esses grupos se dizem democratas, mas apesar de uma das definições do termo seja “a convivência de contrários” não aceitam que sequer haja desvio na linha de pensamento para a permanência no grupo ou na simples categoria de “amigo” e, em consequência, o alijado receberá as ofensas necessárias para enquadrá-lo nas categorias de esquerdista, conservador, coxinha, mortadela, burguês, alienado, xenófobo, racista, preconceituoso (a lista é longa) todos devidamente acompanhados de palavrões, apelidos, etc.

Estamos vendo um fenômeno sócio antropológico de magnitude e consequências inimagináveis com o caos provocado pelas migrações entre países ou dentro deles e, principalmente, entre continentes provocadas por secas, guerras, pressões econômicas e perseguições de todas as espécies.

Com a confrontação das práticas sociais, religiosas, linguísticas e econômicas, se acirram os embates étnicos porque o “migrante” sempre será encarado como o “diferente” o “usurpador” que vem se aproveitar das benesses da “minha sociedade rica e estável” para a qual ele em nada contribuiu.

Naturalmente, por conta da sua formação de animal oportunista, coletor e caçador eventual, o ser humano tem nas suas raízes as justificativas para seus comportamentos atuais, por mais estapafúrdios que nos possam parecer.

Então não é de admirar que fronteiras sejam fechadas, que haja xenofobia e perseguição a todos aqueles que não pertencem à sociedade da qual fazemos parte desde sempre e que tenhamos atitudes hostis a fim de preservar aquilo que julgamos ser nosso direito inalienável e que destinamos apenas para nossos filhos.

O avanço da medicina preventiva, as vacinas, os antibióticos e a produção maciça de alimentos (embora não haja distribuição adequada) fizeram com que a população mundial crescesse exponencialmente, somos quase oito bilhões de indivíduos e não existem atualmente atitudes para melhorar a convivência do ser humano com o meio ambiente ou fórmula capaz de distribuir a riqueza entre todos nós e, como diz o ditado “em tempo de pouca farinha, meu pirão primeiro”, vamos continuar assistindo, impotentes, ao acirramento dessa segregação que as redes sociais, também, são impotentes para solucionar.

Nossos pensares são diferentes, mas nossas atitudes são semelhantes, porque, como salientou o escritor Érico Veríssimo*, somos, incrivelmente, um só.

*Érico Lopes Veríssimo

Nascimento: Cruz Alta/RS 17/12/1905