QUEM SABE?! (comentário sobre a morte de Fidel Castro)

Muitos o venerarão;

muitos o odiarão;

todos jamais o esquecerão.

O que seria do mundo sem as vozes rivais e o pensamento divergente?

Mesmo receoso em relação aos poderes bélico e ideológico do Irã, Coreia do Norte e Rússia, os Estados Unidos espionam o mundo inteiro e invadem qualquer nação que tenha riquezas que lhe interessam (como aconteceu com o Iraque). Imagine como Tio Sam se comportaria sem as vozes rivais.

O mundo nunca foi – e jamais será – retilíneo e plano, como sonham muitos (senão todos). Cada era tem suas interpretações de mundo, suas contradições específicas, e cada cultura, seus ideais de valores e seus limites de compreensão e tolerância. A globalização pode ser necessária e irreversível, mas não deixa, por isso, de ser um mal. Nunca será uma boa ideia querer que outros vejam o mundo através de nossas próprias lentes.

A lei do talião, por exemplo, é vista, hoje, pelo Ocidente como algo brutal e expugnável. Mas quando foi implantada em Israel, sob a orientação do seu grande líder Moisés, representou uma verdadeira revolução em termos de tolerância, justiça e proteção aos mais fracos; um avanço comparável à revolução provocada pelas ideias iluminadas da França setecentista face ao que se considera até hoje arbitrariedades inumanas e inaceitáveis do sectarismo cristão pelo viés católico romano.

Outro exemplo clássico é a Grécia, considerada a civilização mais evoluída da antiguidade, principalmente quando os assuntos são: cultura, liberdade e cidadania. Lá surgiu a mais influente forma de governo já inventada pelo homem: a Democracia, além da Filosofia e da maior ação de congraçamento e celebração da paz e da tolerância entre os povos: os Jogos Olímpicos.

A despeito de toda sua revolucionária evolução para a época, a Democracia grega tinha limites, vistos pela ótica do democrata ocidental do séc. XXI, repudiáveis. Estrangeiros, mulheres e crianças não eram cidadãos, e escravos (além de serem escravos) podiam ser mortos por soldados em treinamento ou simplesmente como forma de controle do aumento dessa população. Nem por isso, a Democracia grega deixa de figurar em nossos livros de História como uma referência – pelo menos para o Ocidente – de governo e organização social.

A trajetória de Fidel Castro tem, sim, suas controvérsias – como a de qualquer líder humano. Seus excessos, vaidades e erros – alguns certamente grotescos – não devem ser apagados. Da mesma forma que não devem ser soterrados seus acertos. Ou, como dizem os alemães, devemos ter o cuidado de não jogar fora a criança junto com a água do banho.

Se os nossos irmãos cubanos não merecem – como muitos entendem – nossa admiração, muito menos necessitam, nesse ou em qualquer outro momento, de nossa piedade. Nosso respeito será a oferta mais prudente.

Quem sabe, como já aconteceu com tantos outros, no caso de Fidel, por mais que muitos o condenem no presente, a História não o absolverá no futuro?! Quem sabe?!