A bebida me bebeu
Saí de casa bem-vestido, roupas e tênis da moda, com destino à
felicidade. Nem sei quantas vezes conferi no espelho se estava tudo
dentro do esperado e dei aquela retocada básica no perfume várias
vezes. Cheguei todo empolgado para encontrar a turma, a balada
já estava fervendo e os colegas um pouco borrachos e tagarelas.
Naquele momento me senti óleo na água! E nada melhor do que
um pouco de álcool para diluir o óleo e me dar o ânimo necessário
para me embaralhar em meio à galera. Ela estava deslumbrante e
trocávamos sorridentes olhares, senti que aquele seria o dia de me
aproximar da gata que há tanto tempo paquerava platonicamente.
Dançávamos freneticamente em um grupinho, todos sorridentes
e aproveitando o som que rolava no ambiente.
Fui abusando do combustível que entendia ser o maior barato e
logo já estava bem de fogo, completamente tomado pela circunstância
festiva, sem perceber o quanto bebia. E nesse pique se
passaram várias horas, os copos vinham cheios e voltavam vazios.
Comecei a ficar com o estômago ruim e sentindo um pouco de
enjoo, saí de fininho para o banheiro em busca de melhoras.
Pensei, deve ter sido o chiclete que me fez mal, vou cortar essas
gomas de mascar de minha vida!
No caminho, tropecei em minha própria sombra e quase
caí, cheguei ao banheiro, lavei o rosto e me livrei de um pouco
da bebida no mictório e o terrível chiclete foi para a lixeira, é
claro. Respirei fundo em busca de sobriedade e a oxigenação
me recobrou os sentidos. Algum instante depois já estava junto
da galera balançando o esqueleto e bebericando nos copos que
rodavam continuamente entre nós. Enquanto isso, o “pancadão”
corria solto nas caixas de som, o que quase não permitia troca
de palavras entre nós. De repente, tudo começou a girar muito
rápido, as luzes começaram a piscar e se apagaram para mim,
perdi completamente a noção do que acontecia em minha volta.
Algumas horas depois… Acordei no hospital com uma tremenda
dor de cabeça, soro ligado em minha veia e algumas pessoas
em volta do meu leito quase de morte. Definitivamente, acho que
minha carruagem virou abóbora e os ratos roíam meu cérebro, ou
será que o “Cinderelo” perdeu o “tenisinho” de cristal!?
No final das contas, não me diverti praticamente nada, a garota
dos meus sonhos acabou beijando outro sapo que a essa altura já
se transformara em seu novo príncipe, para o meu desencanto.
E eu, o gato borralheiro, acabei no hospital em péssimo estado e
levando bronca dos meus familiares.
Sempre nos achamos comedidos, poderosos e acreditamos
dominar qualquer tipo de vício e situação, mas, nesse dia, confesso
que acabei bebido pela bebida. Quantas vezes passamos por
situações parecidas, incomodamos as pessoas, perdemos a noção
do ridículo e, o pior, não aproveitamos o melhor da festa?
Kennedy Pimenta 🌶