PROFESSORES OU SOFREDORES?

Que fique claro, antes de qualquer coisa, que sou peremptoriamente contra qualquer ação ou insinuação de cerceamento das liberdades, em especial as de pensamento e de expressão; o que significa que minha autocrítica (neste texto) é sobre o teor (a consistência, a forma) da, e não sobre a expressão em si.

Não sou de me escandalizar com qualquer coisa. Confesso, no entanto, que me assusta e chega a me deixar confuso certos argumentos corriqueiros em nosso meio, seja em tempos de normalidade seja em momentos de agitação, como durante as greves e paralisações, por exemplo.

É cada coisa que ouço que chega a doer os tímpanos: “E aí, o que vocês do Sindicato vão fazer?” “Vocês já falaram com os diretores? Porque o da nossa escola disse que não vai liberar ninguém?” “Se todo mundo parar, eu paro também”. “E esses dias parados, nós vamos ter que pagar?” “Eu até gostaria de participar da greve, mas o diretor disse que vai botar falta em quem for”. “Na minha escola, nós não paramos porque não foi ninguém do sindicado lá falar com o diretor, e não chegou nenhum documento pra nos respaldar.” E a mais recente: “Lá na escola, a diretora até fechou o portão pra ninguém sair”.

Ponderar (e até temer) as consequências de nossos atos antes de os cometermos, além de compreensível, é perfeitamente aceitável e recomendável. Agora transformar tais ponderações em verdadeiro terrorismo psicológico ou pretextos insustentáveis para não se expor a situações que provoquem desconfortos (pequenos ou grandes) é outra coisa bem diferente.

Quando eu ouço tais evasivas, fico a me questionar a quantas anda a estima própria de quem lança mão de tais expedientes. Ora, se sendo professor – por natureza da função, uma pessoa bem esclarecida, um líder e um influenciador –, eu me deixo intimidar e, por conseguinte, me privo de exercer direitos tão básicos (como o de me expressar) por tão pouco, como posso me apresentar para aqueles que estão sob minha influência direta (os educandos) como um mediador da mudança no qual eles podem confiar como tal?

Será mesmo que nossos colegas que saem com essas (entre outras) pérolas não se dão conta de que estão se colocando numa situação, no mínimo, de descrédito quanto à função que exercem? Como podemos nos apresentar como os proponentes da transformação social – como tanto alardeamos – se mal conhecemos nossos direitos mais básicos? Ou será que os que saem com essas, na verdade, estão sem muita criatividade para idealizarem pretextos mais convincentes para não arcarem com os ônus que a adesão a tais movimentos costuma gerar?

Acredito que se algum dia esse discurso de que somos coitadinhos, vítimas de tudo e de todos, perseguidos e oprimidos, desvalorizados, etc. e tal surtiu efeito, já foi. Os tempos são outros. Não há mais como ficar na defensiva. Como dizem no futebol: “a melhor defesa é o contra-ataque”. Como profissionais do Magistério (por opção ou por imposição), a luta por dignidade e justiça social não é uma escolha, mas uma consequência. Isso não significa uma condenação. Ou seja, os que têm essa visão, não têm o direito de se impor sobre os que pensam (e agem) diferente, muito menos de os desqualificá-los ou rotulá-los por isso. Da mesma forma, os que, por alienação, por dissimulação ou por quaisquer outras razões, não compartilham desse entendimento terão uma atitude mais honrosa para consigo e para com a categoria se assumirem de cara limpa seus posicionamentos. É para isso que existem garantias legais, como a de liberdade de expressão. Discordar, ainda que de colegas de profissão não é crime – qualquer um pode fazer livre e abertamente.

E mais: “o feitiço pode virá contra o feiticeiro”. É importante que se ressalte que assim como os que ocupam cargos de chefia podem responder (administrativa e judicialmente) por crimes como assédio moral, discriminação e/ou perseguição, aqueles que, volta e meia, usam o nome dos chefes como pretextos para suas evasivas da luta correm, igualmente, o risco de serem representados por crimes como difamação e calúnia, por exemplo.