Cidade dos meus sonhos
Há sítios distantes, onde a simpatia é comum no seio de gente que sabe ser simpática, a arrogância é incomum na face de quem não se identifica com tal atitude, a irmandade está patente na vizinhança, cada um luta ferozmente para vencer as barreiras que lhe são impostas pela vida sem imiscuidade alheia. O ódio e a inveja estão tão longe de ser um impedimento para quem deseja fazer o que bem entende, num ambiente tranquilo e sereno realizando todos os sonhos com ajuda de todos que o rodeiam.
As estradas estão maximamente asfaltadas, as casas muito bem estruturadas, bairros organizadíssimos e o sistema de saneamento funcionando em perfeitas condições. Há transporte por tudo o que é canto, a viagem é a todo o momento sem necessidade de enfrentar enormes filas e esperar horas para tomar um transporte.
A energia cobre toda a cidade, os mercados estão espalhados por toda conurbação, as escolas abrangem zonas recônditas e a educação é acessível para todos os cidadãos.
Carrego sonhos desses sítios distantes para a minha cidade, queria que tudo fosse assim: gente simpática sem inveja nem ódio, ruas asfaltadas, transporte para todos cidadãos, casas extremamente organizadas e bairros bem estruturados onde não há construções desordenadas, vias de acesso precárias e problemas graves de saneamento do meio. Um sítio onde a escola e a educação sejam acessíveis para todos e a partir dela, o povo tenha a base para tomar o poder, como dizia o saudoso presidente Samora Machel. Mas sinto pena de mim e dos meus sonhos porque não é isso o que vivo e estou muito longe de ver algo parecido acontecer.
Continuo vivendo empoeirado, morrendo de sede porque a canalização de água potável é deficiente, o lixo está espalhado por toda a cidade, não consigo viajar condignamente porque na mesma viatura viajo com cabritos e porcos amarados sobre a bagageira, os buracos são inevitáveis na estrada, as distâncias são longas para se chegar à um hospital de referência e as pessoas esgotam-se de tanto sufoco e de tanto se apertarem dentro da lata velha.
Sempre me pergunto se um dia isso vai acabar ou se algo vai melhorar. Até quando viver assim?