BR 716
Assisti, na última semana, ao filme BR 716, em cartaz na Casa de Cultura Mário Quintana, e saí impressionado com a capacidade do cineasta Domingos Oliveira, aos 80 anos, produzir mais um filme denso, sensível, verborrágico e potente. A película retrata o contexto dos jovens da década de 1960 no Brasil, cuja instabilidade política misturava-se à boemia carioca, à arte e à poesia. Domingos, que hoje é um consagrado ator, dramaturgo e cineasta, sintetiza no filme sua juventude marginalizada e fora dos padrões sociais, uma etapa de sua vida rejeitada e triste, embora potente. Traz como pano de fundo a nostalgia, a ilusão, a solidão, os amores, a revolução, a ditadura, o comunismo, as traições e a busca pelas utopias, alijadas pelo golpe militar de 1964 e tão necessárias e ausentes nos dias de hoje, pós-golpe civil de 2016. O filme é atual e, apesar do elenco global, do cenário claustrofóbico dentro do apartamento na Barata Ribeiro e da artificialidade proposital em alguns diálogos (ao melhor estilo Woody Allen), o resultado é uma obra que nos mexe, que nos faz pensar e nos proporciona reflexões acerca do que foi vivido na década de 60 e do que estamos vivendo hoje, no dia simbólico da morte (apenas física) do comandante Fidel.