Linhas e Linhas da Palma e do Coração

 
No Reino de Procusto me pediram para fazer uma Linha do Tempo como quem pede a um Poeta para do gelo fazer Poema. Não  que das coisas gélidas o Poeta não consiga fazer Poesia, pois tudo lhe é capaz de  provocar epifanias. Mas o vate maior já afirmou:  “não se encomenda poemas  como quem encomenda receitas ao boticário:  A Poesia brota da inspiração como a água da fonte”. A Linha do Tempo também é assim. Ela não é simples expressão algébrica em que de posse de fórmulas matemáticas se tem valores numéricos. Ela é fruto das ciências humanas e por isto é marcada, remarcada, feita e desfeita como são os processos históricos  que batem no ritmo do coração social como as linhas de um eletrocardiograma.
 
Linha do Tempo é um recurso esquemático que os profissionais das Ciências Humanas se utilizam para apresentar suas pesquisas ao público, para conduzir, como lembrete, seu trabalho e atingir seus fins.
 
Para ser produzida, já que resulta de trabalho investigativo, requer esforço de historiadores para inventariarem e analisarem documentos escritos, registrarem entrevistas e oralidades dos sujeitos históricos, fotos e demais vestígios humanos. Tudo isto requer cuidados que exigem tempo e custos.
 
Ao elencarmos nomes a memória nos trai e esquecemos tantos outros como sujeitos históricos.
Linha do tempo é apenas um recurso para o estudo das histórias. É a coluna com suas vértebras de um organismo social.

Histórias sim. Porque há várias histórias tanto quanto são os processos e os diferentes olhares sobre cada um. Por isto a História deve ser escrita e reescrita sempre. Vários são os processos. Vários são os sujeitos. Vários são os interpretes.
 
O tempo histórico não é linear como o tempo cronológico e por isto perguntamos, então, por que linha do tempo se ela não for utilizada apenas como esquema, um recurso, uma bússola e requer desdobramentos?

O tempo histórico não é circular e nem cíclico. A História é ciência e não arte mística. Por isto temos que desmistificar e desmitificar aquilo que mal entendedores dizem a seu respeito como quem consulta mãos e cristais. A História não se repete! Até porque em virtude de sua existência enquanto ciência:  estudamos o passado para não repetir os seus erros no presente. A História é em função do presente!

O tempo histórico se faz por mudanças e transformações provocadas pela humanidade – o Homem é seu sujeito e agente transformador. Por isto os avanços, às vezes seus retrocessos e outras, retomadas. Tudo é uma experiência, uma experiência de vida coletiva: social, política e econômica.
 
O tempo histórico é formado por linhas que ziguezagueiam como as de um eletrocardiograma mostrando o pulsar do coração humano. E é este coração que nutre através de suas veias os vários membros – diversas sociedades com suas várias etnias e culturas – do imenso  “corpo humano” no espaço geográfico.


Linhas e linhas da palma e do coração me ensinaram que jamais deve se deitar na cama de Procusto representada por aquela instituição.


Leonardo Lisbôa
Barbacena, 15/04/2014.

   
 
 

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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 26/11/2016
Reeditado em 26/11/2016
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