UMA HISTÓRIA FELIZ

- Mamãe, está chegando o Natal, escreva uma história feliz.    O pedido me foi feito por Cláudia, uma das minhas filhas.
Pedido difícil este da Cláudia. Gostaria que o meu coração, que anda meio vazio - vai saber o porquê - enternecesse mais que de costume e eu pudesse interpretar as emoções populares da época natalina, escrevendo um conto de Natal. Seria um parêntese de ternura no agitado clima em que vivemos; como tão bem fazia o romancista inglês Charles Dickens, com os seus contos natalinos, que eram verdadeiras mensagens de amor à cidade de Londres. Valendo registrar a respeito do romancista uma manifestação de carinho que ele não pode assistir. Foi de uma pequena que vendia flores nas portas de um teatro londrino. Ao saber da morte do romancista, a menina que se distraia em tristes noites de inverno com as suaves histórias de Natal por ele engendradas, perguntou angustiada: “ Morreu Dickens? E o Papai Noel será que também morreu?”
Pois é, Cláudia, de fato o Natal se aproxima e eu não consigo arrancar de dentro de mim palavras que possam compor uma história feliz. Como a menininha de  quem falei acima, indago também: será que o nosso Papai Noel morreu? Se morreu deve ter ido pro céu, que peça diretamente ao outro, que  também é Pai, não presentes para as nossas crianças, mas sim, o direito de viverem com dignidade, já que nasceram; que ponha nos corações de centenas de jovens pelo menos a esperança de um futuro mais promissor; que faça com que milhões de brasileiros tenham em suas mesas, não uma ceia de Natal, mas sim, o feijão nosso de cada dia. Enfim, ponha na cabeça de nossos dirigentes o discernimento necessário para enxergarem a  realidade que nos cerca, tão diferente das por eles apregoadas.
Desculpe, filha,  esta é uma história  nada feliz, mas é só o que eu posso contar...

 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 25/11/2016
Reeditado em 25/11/2016
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