Simplificando tudo

Eu tenho uma idade avançada, e uma capacidade visual não tão avançada assim, e gosto de cinema, gosto muito de cinema.

A idade avançada faz com que eu durma na primeira metade de qualquer filme, ainda que não seja um longa metragem... eu durmo, e a catarata não permite distinguir o mocinho do bandido, e quando eles se defrontam, eu nunca sei para quem torcer, é claro que eu tenho princípios morais, e me coloco sempre ao lado do bem, mas minha catarata confunde os dois princípios, me deixando sem saber para quem endereçar minha torcida.

Confesso que não sei explicar a minha predileção pelo cinema, pois além das dificuldades retro mencionadas, eu não consigo aprender a língua inglesa, e todos sabem que a grande maioria dos filmes é nesse idioma, que eu tanto odeio.

Passo grande parte do meu tempo, e como aposentado eu tenho muito tempo para passar, imaginando soluções:

- aquele – voltamos em dois minutos – passaria a ser – voltamos em duas horas – tempo suficiente para eu dormir, no meio do filme, sem perder parte da história;

- para que eu não confundisse mais os personagens, fosse qual fosse o enredo, um seria branco, o outro seria negro, um chinês, com chapéu típico, e o mocinho seria sempre o General Custer, computação gráfica seria a solução para muitos figurantes;

- nunca mais trocaria os nomes de ninguém se um se chamasse Huguinho, outro Luizinho, outro Zezinho; tudo com a devida anuência da Disney; além do General Custer, é claro;

- como minha agilidade mental já não é a mesma de 40 anos atrás, em filmes de espiões, todos usariam crachás;

- no confronto final, o bandido lutaria com camisa, e o General Custer lutaria sem camisa, para agradar ao público feminino, com seu físico privilegiado;

- sempre, no dia seguinte, seria repetida a segunda parte do filme, afinal as duas horas de intervalo, para a soneca, uma ou outra vez, podem não ser suficientes;

- nada seria alterado na censura dos filmes, sempre fui um defensor da moralidade;

- em salas fechadas, pipoca com manteiga seria proibida, o cheiro me enjoa um pouco;

- que fossem passados muitos filmes da Jane Fonda, minha eterna diva...

E que a versão original dos filmes fosse mantida para as demais faixas etárias, pois é, nem todos têm o mesmo gosto.

O fim (the end)

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 25/11/2016
Reeditado em 25/11/2016
Código do texto: T5834048
Classificação de conteúdo: seguro