Vestido Bordado

Foi no tempo que as meninas rodopiavam seus belos vestidos, feito de chita ou de fazenda escolhida a dedo com bordados à mão, ponto por ponto, no bastidor a linha a dançar nas mãos delicadas das avós a fiar histórias, a bordar poesia, a tecer imagináveis desenhos que nascera os vestidos de real significados.

Foi ali num tempo distante, que as fadas brincavam sob à luz da lamparina enfeitando flores, metamorfoseando borboletas, girando o carrossel com linhas coloridas nas mãos enrugadas das avós que batizavam o vestido com mil fitas para as meninas.

Foi ali num tempo de paz que pequenos seres tomaram forma, a cantarolar com a brisa das tardes mornas, a sorver sorrisos e gargalhadas das crianças a correr em volta onde as cadeiras de balanço entoavam um canto, um eco, o da paz.

Ali meninas pulavam e colhiam pedrinhas, brincavam de amarelinha e como mágica tudo ia pro bordado,o perfeito trabalho das fadas tingindo o tecido, envoltas aos dedos ágeis das avós que enquanto bordavam, recitavam parlendas, assoviavam com os passarinhos, e tudo ali se fazia bordado, flor, encanto, pureza e magia.

E assim os vestidos se criavam, histórias se contavam e a infância era eternizada desde as frescas manhãs, até à modorra da tarde, onde os sonhos eram sonhados em nuvens, no cirandar de rodas.

As meninas às voltas com seus castelos imagináveis e as fadas a viver leves e primorosas na linha brincante do bastidor das avós, todas ali, em filas a serem as primeiros a rir mais alto, as mais ternas a recitar poemas, todas a cantar a melodia da vida e criarem vida nos tecidos.

Foi ali que se fiaram os vestidos das meninas, e ainda hoje assim, fiam as fadas, ainda que ninguém mais acredite, que bordam flores vivas, amores-perfeitos, girassóis e turmalinas, as fadas fiam sim, nas tardes quentes os picolés de fruta,de sabor doce de criança, de gosto suave de infância, a saudade de um tempo bom, nos vestidos estampados e coloridos que as meninas de hoje vestem sem se dar por si.

Paula Belmino