Solidão a dois
Com sorrisos cada vez mais raros e sem poder de contagiar; com impaciência ao invés de brincadeiras e um torturante silêncio onde deveriam existir palavras e palavras, cada vez mais pessoas vivenciam a solidão a dois, termo que ouvi pela primeira vez na voz de Cazuza, em “Eu queria ter uma bomba”, música do Barão Vermelho.
São olhares vazios, pensamentos dispersos e uma sensação enorme de “tanto faz”. Na mesa durante uma refeição , o casal insiste em prestar atenção cada um exclusivamente em si mesmo; enquanto caminham, nenhuma palavra sai de seus lábios. No sexo, por não exigir diálogo, as coisas fluem um pouco melhor. Mas isso é insuficiente.
O relacionamento, contudo, é mantido. Talvez porque essa realidade basta. Existem pessoas que se contentam com o básico e outras que temem a solidão mais do que qualquer outra coisa. Elas não percebem, porém, que estão sozinhas, apesar de terem uma companhia.
Parece contraditório, mas não é. Soa como se as pessoas, com medo da solidão, resolvessem ficar sozinhas juntas. Assim é formada uma multidão de almas vazias, de corações partidos e mentes desencontradas.
Elas se sentem perdidas da mesma forma. Estão a sós com seus pensamentos, embora segurem uma mão. Sonham acordadas, mas preferem não falar sobre isso. Passam horas tentando saber porque aquelas pessoas malucas escrevem poemas e canções.
Ficam inconformadas por aqueles que dizem que até o céu muda de cor quando estão amando. "Porra, o céu é azul. Sempre foi e sempre será", concluem. Mas é mentira. O céu é da cor que querem aqueles que não sentem uma solidão esmagadora, estejam acompanhados ou não.
E assim assistimos relacionamentos começando e terminando dia após dia. Não haveria problema nenhum nisso, afinal, nossa existência é efêmera, e somos feitos de dúvidas e erros. O problema é assistir o seu relacionamento começar e acabar e ainda assim não aprender nada de valioso com ele. E sabe por que não? Porque vocês não estavam juntos. Apenas estavam sozinhos no mesmo lugar.