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Á noite tem transcorrido sem nenhum alarde, apesar de toda a minha ansiedade, mas aparentemente tudo está tranquilo, e se não fosse o cansaço por repetir todas às falas que amanhã tenho que falar, a madrugada de hoje seria diferente, talvez eu conseguisse descansar.

Hoje não estou sozinho, quer dizer, quase nunca estou, tem sempre um desencarnado a me observar, e você aí também, mas não tenhas medo, os rostos no escuro e no espelho na maioria das vezes são amigos querendo falar. Minha mãe hoje está aqui, de onde escrevo vejo ela, dormindo como uma pedra, e agradeço a Deus por ela não padecer da insônia que é ínsita em mim, mesmo sabendo que ela conseguiria aguentar, toda mãe é uma guerreira.

Amanhã eu vou ter a chance de mais uma vez existir, eu consigo essa proeza falando, escrevendo e bebendo, a última forma, é deveras efêmera e consegue superar à noite na capacidade que tem de tudo em mim potencializar. Diminuiu a solidão, mas o que me preocupas é quando a minha mãe volta, pois logo então a solidão retorna, e a cada retorno mais forte ela tende a ficar.

Não estou muito afim de escrever, porque escrever é um vício triste, ainda mais na madrugada e do jeito que estou sem dormir, não vai demorar muito para haver novidades, só falta o termo definir, um zumbi escritor ou um escritor zumbi? Eu ri disso é sério, a pior loucura é a sanidade, tenho dito, porém são tantas bobagens.

Não pretendo demorar no que estou a escrever, os limites da chatice e do cansaço são visíveis, eu tenho sempre que me policiar, não gosto desse termo, me parece um tanto opressor, enfim já me vou, devo tentar descansar, vocês já sabem como, eu fico na cama quieto, diminuo a respiração, tento o mínimo de energia gastar, mas a minha mente nunca para, uma atividade mental tão acelerada, que penso em tudo e em todos e não consigo descansar.

Não vou deixar recado, vocês já estão acostumados, mas eu garanto que volto e aos poucos vou contando à rotina e inquietações de um insone, que acredita que escrevendo, irá conseguir da insônia se livrar, duvido.

Uil

Elisérgio Nunes
Enviado por Elisérgio Nunes em 23/11/2016
Reeditado em 23/11/2016
Código do texto: T5831942
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