Natal das lembrancinhas

          1. Podia tecer alguns comentários sobre o que, no Natal deste ano, pode acontecer com o comércio.
          Não de forma leviana, mas louvando-me no que dizem nossos preclaros comerciantes e nas pesquisas feitas pelo Serviço de Proteção ao Crédito-Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, já divulgadas.
          2. Deixo, porém, esses comentários pros entendidos no assunto fazê-los. Tenho a dizer, apenas, que a cantilena é a mesma, ou seja, a de que as vendas serão inferiores às dos anos anteriores.
          3. Embora as previsões catastróficas nem sempre se confirmem,  a verdade irrefutável é que o Natal de 2016 será o Natal das lembrancinhas e não o Natal dos presentinhos.           Principalmente para os assalariados, no momento vivendo sob a ameaça de não receberem o décimo terceiro salário. 
          4. Perambulando por um grande Shopping de Salvador, constatei que não há filas nos caixas das lojas famosas e lojas populares. 
          O movimento era fraco. O povo não havia encontrado o caminho das lojas, inclusive das que vendem bugigangas, as mais frequentadas.
          5. Abordada por mim, a meiga comerciária - presenteando-me com o seu sorriso moreno - explicou-me que "ainda está muito cedo". E com doçura: "Dias melhores estão por vir". Desejei-lhe um Bom Natal, e parti...
          6. Discretamente, olhei para a cara de um Papai Noel que circulava solitário pelos corredores do Shopping. Não descobri no seu rosto aquele ar espontâneo e alegre dos tempos natalinos.
          Andando de um lado para o outro, ele parecia perdido entre as dezenas de lojas, com pouquíssimos fregueses. E já se aproximava do meio-dia!
          7. Colei nele. E ouvi dele que dezembro não havia chegado; e que, por isso, seu trabalho de atrair os pais que acreditam nos seus apelos, não havia começado. Desejei-lhe um Bom Natal.           Em seguida, despedi-me do Shopping, que continuava quase vazio.
          8. Não digo que voltei para casa definitivamente desiludido com o movimento comercial do próximo Natal.
          Prefiro acreditar no que me disseram a gentil comerciária Margarida e o Noel que, como disse, circulava no Shopping a procura do que fazer; fingindo, quando abordado, que estava feliz da vida... 
          9. Em casa, decidi escrever sobre o Natal. E você pergunta: com um mês de antecedência? Sim. Em dezembro, o tempo voa e os compromissos são inúmeros, e, às vezes, sufocantes...
          Garantir que terei tempo, fôlego e cabeça para rabiscar uma crônica, na Noite Santa, não posso. O tema, contudo, já escolhi: o Papa Francisco e o nascimento do Bambino, assim o outro Francisco, o de Assis, chamava a Divina Criança.
          10. Para escrever esta crônica,  pre-natalina, pedi a ajuda do poeta Manuel Bandeira. E do Manu, transcrevo Canto de Natal.
          "O nosso menino/ Nasceu em Belém./ Nasceu tão-somente/ Para querer bem. == Nasceu sob as palhas/ O nosso menino./ Mas a mãe sabia/ Que ele era divino. == Vem para sofrer/ A morte na cruz,/ O nosso menino. / Seu nome é Jesus. == Por nós ele aceita/ O humano destino:/ Louvemos a glória/ De Jesus menino".
          11. Um terno e simples poema; como simples foi a manjedoura de Belém.
          12. Eloquentes são os versos que Bandeira nos deixou. Bons, por isso, para o Natal que, a rigor, deve ser a festa da simplicidade. A simplicidade que Francisco de Assis quis quando criou, em 1223, o presépio de Greccio...

   
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 22/11/2016
Reeditado em 23/11/2016
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