VILA DO SAMBA

Era aniversário de Michele e, por sugestão de Luana, fomos a um pagode. Um não, “o” pagode! (Mas esta conclusão só me veio depois). Tal tipo de festa não consta na minha lista de preferências, a começar porque não conheço as músicas atuais, menos ainda as coreografias. Mas, por sorte, o dia era especial, estilo retrô, e acabou dando certo pra mim. Só as antigas!

Minha satisfação começou ao chegarmos, quando vi aquele lugar: impressionante! Diferente de tudo o que conhecia. Certo, não conheço muitos lugares, mesmo assim, imagino que aquele é especial e que qualquer pessoa minimamente sensível se encantaria em estar ali.

Ambiente agradável, acolhedor, bonito, repleto de frases escritas nas paredes: “Coração escaldado tem medo de gente fria”; “Seja refém de algo que te liberte!”. Ah, outra imagem me atraiu, e por uma infinidade de motivos: São Francisco de Assis e a basílica, pintados numa parede, com a descrição “lembrança de Canindé”, assinado por “Zé da Mocinha”.

Cada detalhe me surpreendeu: as luminárias antigas; o colorido das casas que compõem a vila; o boteco e suas prateleiras cheias de garrafas de cachaça e a velha máquina registradora; o pequeno espelho (21 x 16 cm), aquele de moldura laranja, igualzinho ao que meu pai usava quando fazia a barba; a capela; o mictório... A vila é um reduto cultural muito rico.

Música troando, galera animada, sambinha no pé e copo na mão. E eu seguia com as minhas observações... Descubro Renata a mais surpreendente pagodeira. A moça não tem cara de quem desce até o chão. Mas desce. E com muita graça! Fiquei impressionada com o gingado que ela tem. Inclusive lhe perdoei por ter mencionado a Medida Provisória 746, nossa maior desgraça, várias vezes (o que atesta a gravidade da coisa, pois nem mesmo um pagodão daqueles, regado à cerveja, impediu que o assunto fosse aludido). Em meio ao samba, Renata me puxava pra perto dela e gritava no meu ouvido qualquer coisa sobre a “emepê” e eu sacudia a cabeça em sinal de concordância.

Tomamos umas e outras, dançamos, curtimos bastante. Foi um sábado bacana. Ouso dizer que foi perfeito. Sim, não poderia ter sido melhor. Cumprimos com rigor o aviso da porta de entrada: “Entre sem cerimônia. A alegria é viga-mestre da casa”.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 21/11/2016
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