O inesperado
Como pode ser tão lindo, meu besouro, vagando por estas calçadas, humildemente, sem se dar conta do quanto enfeita a vida? Lentamente mexe seus membros luminescentes azulados, como se fossem candeeiros riscando seu caminho de luz.
Sua imagem fosforescente não se apaga de minhas lembranças que me fazem leve e agradecida. Com a lente do celular sempre à mão, pude admirar por mais tempo, chegar pertinho, cristalizar o presente recebido da Mãe Natureza, na Biologia do meu Deus.
Se ainda morasse em casa eu o teria trazido para enfeitar meu chão, minhas plantas. Conversaria com você. Eu o caçaria entre as flores orvalhadas do amanhecer e cálidas no poente. Mas, não poderia o trancafiar no piso frio de um apartamento, longe do seu habitat. Eu o faria um besouro lindo, mas triste, exilado de sua terra.
Seria egoísmo meu, o querer só para mim? Não, não era esta minha intenção. Meu desejo seria de preservação. Me espinha a alma pensar que alguém possa esmagá-lo por indiferença, ou descuido.
E assim começou o meu feriado da Proclamação da República. Paro o carro em frente à casa de um amigo para buscar uma encomenda e me deparo com esse encantamento. Me apressei em voltar para a calçada. Não queria que o meu besouro fugisse. Ansiedade minha, em perpetuar o belo, porque, em seus passos lentos não iria muito longe.
Por onde anda? Gostaria de encontrá-lo novamente pelas esquinas deste mundo. Aqui, ou acolá. Não deve se ser um exemplar solitário. Espero que não esteja na lista dos animais em extinção. Uma lágrima rolaria, se assim fosse.
Será meu mascote em pensamento. Também uma oração. Um sorriso no olhar para os nossos pés; para a passarela que nos engravida de poesia em tudo que nos rodeia.
É lindo, não é?
Abraço e o desejo de um dia fosforescente,com nossa Luz própria, nos ombos da Fé, Esperança Bênçãos.
Olynda Bassan