Subterrâneos
“Boa noite, a policia ainda não tem pista dos criminosos que assaltaram na tarde de sábado da semana passada a residência do ex-prefeito, algumas imagens feitas pelas câmeras de vigilância da rua estão sendo analisadas, porém sem êxitos. Somente neste mês é o terceiro crime de roubo misterioso em que os bandidos não deixam pistas, será que devemos começar a acreditar em crime perfeito?” – Desliga essa porra! O que é que esses filhos das putas estão querendo? A investigação está seguindo caralho! – Calma seu Delegado, uma hora dessas encontraremos esses homens invisíveis! – Não tenho duvidas, mas enquanto a hora não chega, a imprensa abre o microfone e o povo abre a boca e aqueles bundas moles lá de cima ó! Bota sem vaselina na gente! – pior que é! Mas vamos beber que os problemas se dissolvem, TIM, TIM!. O delegado Salviano e o detetive Roque aproveitavam as ultimas horas do final de semana para reforçar os laços de amizades das famílias e falar sobre os acontecimentos que eram lembrados em todo os estado, seqüência misteriosa de roubos e nenhuma pista, as câmeras não conseguiam captar nada além das trivialidades que todas as cidades exibem. Mas alguns metros abaixo da superfície dois homens e uma mulher dividem os lucros de uma grande operação. – Então Jennifer vai querer ficar com o colarzinho ou prefere a parte em dólar? – Vou querer ficar com o colar, mas também quero parte do dinheiro! – O que é que você acha Bazuca? A putinha merece algo mais? – Não e se encher o saco não leva nem o colar! – O que foi que você disse Bazuca? – Isso mesmo que você ouviu é só o colar e pronto! Fomos nós dois que entramos naquela porra! Vamos ficar com parte maior sim! – Ta bom, eu aceito, mas não me responsabilizo pelo o que minha língua vai dizer por ai! Bazuca levantou-se furiosamente segurando uma PONTO QUARENTA, puxando a mulher pelos cabelos encostou a arma na sua testa. – Repita vagabunda, abra a boca novamente que eu arranco sua cabeça! TA ME ENTENDENDO PORRA! Finalizou com um forte empurrão fazendo com que Jennifer caísse sobre um colchão e algumas caixas que estavam à frente. Balão conhecendo a personalidade do amigo não se atreveu a entrar no meio. Enquanto ela soluçava deitada de bruços, o agressor acendeu um cigarro de maconha, duas baforadas e passou ao comparsa. Digitou alguns números no celular e esperou, após tentar novamente sem sucessos, deixou o aparelho de lado e esticou a mão pedindo a droga de volta. Ao receber foi até a moça que ainda chorava e deitou ao seu lado, soprou-lhe fumaça no rosto e ela se encolheu em sinal de negativa, Bazuca soprou novamente e abraçou-a por trás, apertou-lhe as nádegas e passou a língua na sua orelha. Jennifer virou-se olhando para ele com os olhos inchados e o beijou com a língua inteira na boca. – Vai me dar um pouco de dólares também? – Vou pensar no seu caso! Falou Bazuca subindo a saia dela como se Balão não estivesse ali. Antes de entrar para o crime, Bazuca era ajudante do seu pai “Messias Cisterneiro” moravam no interior do Nordeste, ganhavam a vida procurando água em cisternas que chegavam às vezes a quase vinte metros de profundidade. Desiludido com a fome que passavam fora tentar sorte em São Paulo, queria trabalho digno, mas que não precisasse mergulhar na terra feito tatu, porém a falta de estudos não permitiria que ele realizasse o sonho. Para não passar fome voltara cavar terra em um cemitério da prefeitura, por indicação de amigos, passara a cavar buracos em asfaltos de uma empreiteira da Sabesp. Um dia roubaram cobres próximos onde estava e mesmo jurando inocência, que não conhecia os ladrões, confessara depois sob sessões de tortura, recebendo sentença de dois anos de prisão. Dentro da cela fizera amizades e um assaltante de carro forte condenado a vinte anos de prisão, prometera duzentos mil reais a ele se fizesse um túnel para fugirem. Subornaram alguns carcereiros e logo todos os materiais que precisavam estavam em mãos. Bazuca que ainda era Sidnaldo montara um plano de trabalho e uma equipe de dez presos se revezando dia e noite, com noventa dias um túnel que saia de baixo do presídio até uma casa a quinhentos metros, estava pronto. Deixou a cela vazia, a liberdade do condenado á vinte anos estava decretada, faltava à promessa dos duzentos mil reais. De dentro da casa saíram em uma Range Rover em direção a um sitio em Cubatão. Na descida da serra outro carro interceptara o deles e Bazuca fora retirado e alvejado com dois tiros na cabeça, dias depois por milagres abriria os olhos dentro de uma cela do mesmo presídio que escapara. Foram varias cirurgias e um coma de vários meses. Estava condenado a cinco anos de prisão. Os dias pareciam andar em câmera-lenta como a dificuldade de retomar os movimentos sendo ajudado pelos colegas de cela, no seu quarto ano de pena conhecera o ex-pastor evangélico Silas Melquiades Pereira o “Balão”, preso por roubar o cofre da igreja, mas segundo os seus visitantes Deus o havia perdoado e ele sairia dali direto para pregar a palavra, e a amizade crescera até o dia em que se viram livres e por coincidência na mesma data. Balão fora direto a antiga casa rever mulher, filhos e apresentar o amigo, mas um dos pastores que o visitava não permitira, dizendo que por revelação divina ele a ex-esposa do Balão estavam juntos. Perambulando pelas noites frias de São Paulo viram o antigo devedor dos duzentos mil reais entrar em um luxuoso apartamento na avenida Paulista, era um centro comercial e também residências. Ficaram observando meticulosamente aquele homem que havia lhe infernizado à vida, Bazuca contava a história ao amigo, pouco tempo depois repetia a mesma história e assim passaram a ir todos os dias aquele mesmo horário, entre 22 e 23h. Numa sexta feira o homem chegara acompanhado de duas mulheres e um segurança que fora com eles até a portaria, conversaram ao pé do ouvido e o segurança postara-se próximo ao carro aguardando. Em dado momento renderam-no com uma barra de ferro na cabeça o colocando dentro do porta-malas. Que para a surpresa dos dois, estava repleto de armas, dentre elas uma bazuca parecida com uma que ficava no ombro de um soldado de brinquedo, que Sidnaldo brincava quando criança. Enrolara sobre o cobertor e ali naquela sarjeta ficara até a descida do homem no inicio da madrugada. – Boa noite senhor! Pode me dar duzentos mil reais? – Ta ficando louco cachaceiro do caralho, vá tomar um banho! – Tem certeza que não me deve nada pelo túnel que cavei? Ao ouvir aquilo o homem se congelara, soltando a mão das mulheres! – Mas é você meu amigo! Naquele dia pensei que aqueles caras o houvessem matado! Eu até tentei... – Tentou o quê, tentou me matar não é filho-de-uma-rapariga! – Calma amigo, tem câmeras aqui por todos os lugares, policia pode chegar aqui e prendê-lo novamente! – Entrem no carro. Ordenou as mulheres – Liga o carro Balão! Ao ouvir a ordem do seu desafeto o devedor que segurava a mão das mulheres tentara andar até a porta, mas Bazuca já estava com a arma engatilhada e se ajoelha como era o seu brinquedo, atirara na perna esquerda, estraçalhando-lhe do joelho para baixo, caiu aos gritos gemendo de dores, implorava pela vida, enfiando a mão nos bolsos e entregando maços de notas, Sidnaldo acomodara todas dentro dos bolsos. Sobre o rio de sangue o homem desfalecera erguendo a mão por piedade, Mas um novo tiro de Bazuca explodira seu corpo lançando vísceras e miolos nas fachadas caras da Avenida Paulista. Balão virou-se de costas para o casal, relia mais uma vez a matéria que indagava, SERÁ QUE FOI UM CRIME PERFEITO? Mas não podia deixar de ouvir Jennifer gritar em seus delírios que queria parte do dinheiro. Bazuca gemia e concordava.