Lago da sensação de impunidade
Rir de si mesmo ou dos próprios erros faz bem. É aceitação. Rir dos próprios erros do passado faz melhor ainda. É aprendizado.
Há não muito tempo li uma historinha sobre três cavalheiros ao lado de um lago gelado.
Hoje, após rápida pesquisa descobri que era uma piada do Bilíbio simpático e que tratava sobre:
A fama do brasileiros
Numa estação de inverno, próximos a um lago de água bem gelada, estão três turistas: um americano, um francês e um brasileiro.
São observados por dois camaradas, nativos da região. Um deles propõe para o outro:
- Aposto cem doletas como você não consegue fazer com que esses três otários pulem na água gelada.
O outro topa o desafio. Se aproxima dos três e conversa baixinho com cada um separado. Daí a pouco os três turistas se jogam na água.
Derrotado, o cara que propôs a aposta é obrigado a pagar os cem dólares pro outro. E pergunta como ele conseguiu a proeza.
O espertalhão vitorioso responde:
- Foi moleza! Pro americano eu disse que pular no lago era lei. Pro francês eu disse que era moda. E pro brasileiro eu disse que era proibido...
Pois bem, o que me levou a rememorar esse pequeno texto?
A fama dos brasileiros.
Quero com isso, levantar a seguinte reflexão: estaríamos nós chegando ao fim de um ciclo? O da sensação de impunidade?
O jeitinho brasileiro vai desde a aceitação resiliente aos turistas, passando pela habilidade para sempre dar um jeito nas horas difíceis e diga-se, "de maneira correta, honesta ou não", alcançando até os níveis mais elevados de corrupção como temos assistido.
Daí, me faço duas perguntas em que a primeira leva a segunda:
1) Qual seria a sensação (de impunidade?) de um ou mais políticos ouvindo a coletiva da procuradoria da força tarefa da lava jato, esclarecendo minuciosamente como ocorreu durante anos a organização criminosa liderada por Sérgio Cabral, apresentando nomes, datas, estratégias e valores e concomitantemente, esses mesmos políticos estejam porventura engendrando um novo sistema de corrupção, seja ele grande ou pequeno?
2) Nossos filhos ou netos ao repetirem essa mesma piada daqui há alguns anos, poderiam estar rindo e se referindo a como foi a nossa fama no passado?
Estaria eu a ser otimista demais. Ou não, porque só fiz a pergunta, mas na verdade, não estou seguro de a responder positivamente.
Entretanto, se partindo nós do lago da sensação de impunidade estivermos seguindo em direção ao novo lago em que o brasileiro pularia se fosse lei e não por ser proibido, quem pensar que isso ficará apenas no âmbito da política, certamente se engana. E quem cedo se adapta, sofre menos.