Noite de domingo de uma ansiosa

Era domingo, já tinha passado das dez horas quando resolvi me deitar, meus olhos quase não se mantinham abertos sozinhos enquanto arrumava algumas coisas. Eu me rendi e fechei os olhos.

No mesmo instante, foi como se uma voz ameaçadora acordasse dentro da minha cabeça, sussurrando:

“Amanhã é segunda-feira…”

“Você lembra de tudo que tem para fazer?”

“Não esquece de pagar o cartão para ir ao banco.”

“Sexta você vai na autoescola, não é? Fecha logo esse CFC. Para de enrolar…”

Virei para o outro lado na tentativa inútil de desligar a mente. A voz sumiu quando abri os olhos, e voltou quando os fechei novamente:

“Está cheia de boletos para emitir e ainda quer dormir? Hahahaha…”

“Dia 14 você folga, duvido que conseguirá deixar tudo em dia na sexta-feira.”

“Já terminou o seu TCC? Não esquece o Plano de Marketing…”

“As provas começam dia 30, viu?”

“Dia 11 tem regimental da EAD… Você sabe que não terá tempo de estudar…”

Mudei o lado de novo. Olhei o celular. Tinha mensagem. Respondi rapidamente. Olhei a hora: já passava da meia noite. Já era segunda-feira. Fechei os olhos, suplicando à voz que me perseguia: eu preciso acordar cedo amanhã, me deixa dormir.

“Terça é dia de pagamento. Quanto deu de hora extra?”

“Vamos as dívidas: tem o boleto da faculdade, a parte da sua mãe, a faxineira, a parte da sua prima… abusou no cartão de crédito e a fatura nem fechou ainda…”

“Deixa o cartão de crédito em casa. Cancela logo essa porcaria!”

“Já mandou o saldo para os seus representantes? Claro que não, né?”

“E o acompanhamento de metas? E a correção da planilha de estoque? E a consulta de ações? E a pré-cobrança está em dia?”

Abri os olhos. Esfreguei o rosto. Fui à cozinha para tomar um copo d’água. Tentei mudar o foco dos pensamentos. Comecei a cantarolar mentalmente, fechei os olhos. A mente despertou de novo, mas dessa vez não tinha voz. Tinham imagens bagunçadas que se acumulavam a cada imagem nova.

Boletos. Relatórios. Canvas. ABNT. Plano de Marketing. Planilha. Pendências. Saldo Bancário. Conta nova. Agência. Cheque. Metrô lotado. Autoescola. Faculdade.

Abri os olhos. Sentei-me na cama. Tentar dormir não faz mais sentido. Abracei os joelhos e deixei que os olhos falassem por mim. Chorei. Solucei. Implorei por paz.

Já passou da 1h.

Deixa eu dormir?

Deixa eu relaxar?

Deixa eu viver?

Amanhã eu me preocupo. Deixa eu dormir? Só agora.

Alguém desacelera a minha mente?

Preciso de calma. Preciso dormir. Já é segunda!

“Não. Você não vai dormir agora. Já percebeu que é segunda?”