Jurou Vingança



Diocleciano jurou vingança. Suzana prometeu-lhe Cristina.
  - Olha Cleciano – dizia Suzana, com um ar de troça –, você precisa
arranjar alguém. Como pode uma pessoa na sua idade, viver sem uma companhia? Uma pessoa especial, para lhe fazer cafunés! De que adianta esse harém, se na hora do “vamos ver”, você está só! E digo mais: Acho mesmo que as fulaninhas aí estão de olho é na sua gra-na. Fica esperto, meu Sheik de Agadir. Disse, dando três toques com os nós dos dedos, na mesa.
  Diocleciano baixou as vistas, arrasado.
 Suzana sabia muito bem que ele era um durão. Vendia o almoço, pra comprar a janta. Na hora de dividir a conta do bar, ela sempre bancava tudo. Até a gorjeta do garçom.
  - Puxa vida, Cle, vai num terreiro pra curar esta ziquizira.
  Ele prometia que a próxima despesa era dele. A próxima... a próxima, e... a próxima.
  - Aproxima seu órgão auditivo de minha boca.
  Aproximou. Até demais.
  - Menos Diocleciano, menos!
  Fechou os olhos, com medo de escutar.
  - Estava pensando em Cristina. Ideal pra você. Pequena, bonita e rica!
  - Cê tá de brincadeira! Duvidou. – Sério?
  - Seríssimo.
  Foi pra casa imaginando como seria Cristina... Pequena? Um metro e meio? Pelo menos um e sessenta... Bonita feito Letícia Sabatella... Quem sabe, Camila Pitanga. Seria pedir demais... Um metro e meio. Bruna Lombardi está ótima.
  Dias depois encontrou com Suzana no Bar do Gil, beberam, conversaram e desta vez a conta foi, de novo paga por Suzana. Cristina não fez parte da conversa.
 A amiga enviava-lhe mensagens como vai, meu Sheik de Agadir? E o harém?
 Diocleciano trincava os dentes, ameaçava jogar o celular na parede.          Respondia: Beleza pura, minha Sherazade. Estou saindo com Jocréia.
 Ela não falava de Cristina. Achava humilhante cobrar a promessa.
 Depois de mais de um mês, encontraram-se no Bar da Márcia.
 - Cumé, vamos de cerveja? – perguntou Suzana, mas não esperou a resposta. – Garçom, uma cerveja e dois copos, por favor.
 No quinto copo, pálpebras amarrotadas, olhar de peixe-morto, tropeçando nas palavras, Diocleciano foi evasivo.
  - E a baixinha?
  - Que baixinha, Diocleciano?
  - A bonitona...
  - Cê tá bêbado. E com bafo de bode!
  - Você me prometeu... rica, bonita, tipo Camila Pitanga. Não, Camila é nova demais. Um metro e cinquenta, assim, como a Bruna Lombardi.
  - Dio-cle-ciano, você pirou? Está usando drogas, cacete?
  - Uai, foi você quem disse que me apresentaria a Cristina.
  - Ah! – exclamou Suzana, com as mãos na cabeça – é mesmo, Cristina.
   E caiu na gargalhada. E da cadeira.
  - Parece que é você quem está bêbada. Aproveitou para tirar um sarro. E se esborrachou também.
  Sem se levantar, Suzana explicou, com o manjado ar de troça, quem era Cristina.
 - É a cidade em que eu e Fernando iremos morar, quando nos aposentarmos. E você vai também, meu amigo. Uma cidade pequena, bonita e rica em natureza. Você vai amar KKKKKKKKKKKKKK! Rir é o melhor remédio eh eh eh!
   Diocleciano riu, mas em seu íntimo, jurou vingança.



Esta crônica integra o livro Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros - primeira edição esgotada.

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