O Meu Capote de Capitão de Navio

Corria o ano de 1940. E eu, com os meus sonhadores 6 anos e meio, junto com minha Mãe, Minha Tia Maria e meu primo Nélson, seu filho mais novo que deveria ter uns 9 anos, fomos a São Paulo, à casa de minha Tia Dalinda, uma irmã mais velha de meu pai. A Tia Dalinda morava na Rua Álvaro Ramos, num casarão muito bonito, por fora e por dentro.

Eu me lembro de que era uma manhã muito fria. Naquele tempo o inverno era mais rigoroso do que os de hoje. Chegamos às 1oh00 e a Tia Dalinda nos brindou com uma farta mesa, onde eu me lembro de ver vários queijos de casca colorida, e bolos em quantidade. Mas o que mais chamou a minha atenção foram umas “coisas” vermelhas, muito saborosas, que pensei, a princípio, se tratar de linguiça, mas nunca tinha visto. Depois minha Tia de São Paulo disse; “Isto se chama salsicha”. Foi para mim uma grande descoberta.

Depois de matar as saudades de todos a minha tia tinha 8 filhos dos quais apenas dois estavam em casa, e já eram moços: O Angelim e o Orlando. Em casa também estava o nosso Tio Augustim Ongaro, muito educado, mas muito reservado.

Como era um domingo e como nós havíamos comido muitas coisas não fazia muito tempo, a Tia nos disse: “Nós iremos almoçar às 14h00”.

Ai, depois de muita conversa entre tias e primos almoçamos um verdadeiro banquete e o Angelim, o meu primo uns 10 anos mais velho do que eu me disse: “Leve este capote de Capitão para você, que é muito quente, e não serve mais para mim”.

Eu agradeci e vesti o capote na hora, por cima da minha blusa, muito fraquinha, com a qual cheguei. Ai senti-me, realmente, agasalhado. E quando fomos tomar o trem na Estação da Luz eu pude sentir todo o conforto daquele capote. Em casa eu sempre estava vestido com aquele capote preto, com duas âncoras nas mangas.

Quando eu ia dormir, para me sentir bem aquecido, eu abria o capote em cima da coberta e dormia um sono tranquilo e inocente.

Porém essa felicidade não durou muito, pois um dia não encontrei mais o meu capote. Senti muito, mas não perguntei onde o capote estava. Foi mais uma página virada da minha vida.

Laércio
Enviado por Laércio em 15/11/2016
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