O FILHO DA MORTE
Estava assentando na sala escrevendo um livro
Pelo vidro da janela aberto penetrou um vento.
Senti a presença deles de imediato.
Morte e filhos entraram juntos.
_ Pater Mortali!
Ouvi o menino exclamar em latim.
_ Trouxe nosso filho para você o conhecer...
Falou Mora Tis Mortis com um longo e sedutor sorriso.
A camisa preta do menino era de seda fina.
Ele tinha os olhos da morte e se parecia comigo.
Apesar da pele branca do rosto tinha minha aparência.
Era o retrato de mim quando menino.
_ Qual é o seu nome? Perguntei.
_ Vita et Morti.
Meu filho respondeu em claro latim.
Ainda por cima falava uma língua morta.
Ele chegou perto e me abraçou pelo pescoço.
Senti um leve cheiro de almiscar .
Mora Tis Mortis falou:
_ Sabemos que você adora essa fragrância.
Dessa vez a minha surpresa foi maior.
Um filho com a morte usando perfume humano.
Sem constrangimento pela presença do nosso filho
a morte beijou meus lábios durante um longo tempo.
Tinha um outro sorriso enigmático.
_ Qual é a outra surpresa? Perguntei.
Vita et Morti foi quem respondeu:
_ Pater Mortali! Mamãe e eu ficaremos um tempo
aqui de férias contigo...
Olhei para os olhos da morte e ela respondeu:
_ Fica sossegado.
_ Nesse meio tempo ninguém irá morrer na terra.
_ Estamos tirando umas férias para estar contigo.
_ Por sua causa não levarei ninguém...
Fique admirado com aquelas palavras da morte.
Nosso filho falou assim:
_ Não significa que acidentes não ocorrerão...
Compreendi que a presença deles comigo
não iria evitar um caos no mundo todo.
Apenas durante as férias ninguém morreria.
Os dias juntos aos dois passaram rápido.
Quando por fim chegou o momento de partirem
eles me abraçaram e beijaram-me.
Quando meu filho e a morte desapareceram juntos
e o silencio na casa era profundo ouvi o repórter
durante o noticiário dizendo:
_ Aconteceu uma matança de vitimas no mundo todo...
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BELO HORIZONTE, 14 DE NOVEMBRO DE 2016. MINAS GERAIS.
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