Último ato.

Estava debruçado sobre alguns pensamentos antigos, que me fizeram refletir sobre os caminhos trilhados por este ator esquecido. Maltratado por uma inocência decadente, criada em meu mundo, em meu palco, em uma encenação única, sem aplausos e sem críticas. Lembrada por imagens, defraudadas pela insignificância de erros, construídos na intolerância de meus desejos. Tentei por inúmeras oportunidades recuar de propostas que o tempo oferecia, porém o fascino que me atordoava os sentidos, declamava em minha alma, sentimentos sádicos há quem verdadeiramente estava escondido na cegueira da alma.

Percorri caminhos que me fizeram lutar por um destino traiçoeiro e que dragou sem que eu percebesse, a verdadeira áurea de minha existência, que insistiu pela vida, por um simples ato em minha trajetória. Fui tolo, inconsequente e incompreensível. Desiste de viver, de olhar o horizonte e acenar para as luzes que iluminavam minha atuação. Lancei sobre meus sonhos, areias que o tempo esqueceu e nelas enterrei a flores que recebi no lumiar de minhas atitudes. E sem indagações construí espetáculos que se perderam em muitas noites sem estrelas.

No leito de muitos cegos, adormeci e acordei sem destino, e quando desapercebido, buscava enxergar o que ninguém mais enxergava, aquilo que eu mesmo não reconhecia. No entanto, sóbrio de minhas loucuras, tentava resgatar as memorias embriagadas pelo perfume de tantas meretrizes, encontrar em minhas lágrimas, onde havia se perdido o garoto apaixonado pela natureza de um sorriso, ou pelos sonetos, que um dia foram escritos em sentimentos escravizados e torturados pelo egoísmo que corroía minha história.

Quantos pensamentos insólitos assolavam meu espirito, o pasmo envelhecido, corrompia meu corpo batido e abatido, mas que mesmo sem forças insistia embrear-se por novas trilhas, que pudessem mostrar um novo bosque, florido e colorido, virgem e real, mas que distanciasse minha alma, deste vale sombrio e esquecido, palco de minha agonia.

O tempo se finda, e o espetáculo se prepara para o último ato, o apagar das luzes da vida anunciam a morte! Ou será a vida? Quem poderá dizer, ou explicar, porque o ato final não consegue ser atuado. Procuro por cenas não escritas, ou resenhas que definam meu verdadeiro papel a ser atuado. Fito os olhos em direção ao destino que se assenta na primeira fila, e que sem ingresso, revelou-se autor e consumador de que havia me tornado. Percebo o olhar carrasco do meu executor, que sem precedentes, faz que meus olhos cansados sejam embargados pelo desejo de uma nova oportunidade, de um novo papel, de uma última fala, de uma antiga escrita, reescrita pelo arrependimento consolador. O Grande final enfim chegou, sinto que ainda me resta forças, minha plateia aguarda ansiosa por uma atuação digna de suspiros e aplausos incontroláveis. Ainda sou o mesmo, não o corrompido pela ideologia dos farsantes e mentirosos. Mas o mesmo jovem que sonhou um destino reluzente e reconhecido pelos críticos. Outrora fui réu de meus desejos, hoje quero apenas brilhar na eternidade dos palcos da vida, sem culpa e sem acusações, apenas pelo prazer inocente, que busca um novo caminho em uma antiga estrada.

Cristiano Stankus
Enviado por Cristiano Stankus em 13/11/2016
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