MESÓCLISE PRETÉRITA MAIS-QUE-PERFEITA
A professora de português, a Pinto, adotara para a sétima série, um método diferente de avaliar a turma. Não sei se revolucionário, não sei se deu resultados, mas pressão era grande.
- Todo mundo merece um 7 no início do bimestre, dizia ela cheia de discursos e ensinamentos sólidos e poéticos. Sete era a média para não pegar recuperação, portanto todo mundo largava com 7.
- À medida que vocês forem apresentando trabalhos, participações, boas notas nos testes, dar-lhes-ei – aproveitava para mesóclisar - pontos a mais ou a menos. Depende do esforço e do estudo de cada um.
Justo, pensei. Depende de mim! Esforçar-me-ei!
E dê-lhe “estudo dirigido” que era o modelo usado na época. Voz passiva-voz ativa, transitivos- diretos, transitivos-indiretos (ou seriam intransitivos?). E por aí a Professora Pinto vendia o peixe.
Não sei como andavam minhas notas, acho quem vinham crescendo. Mas que eu me esforçava isso sim. Lembro-me de um descontinho só que ela me deu na leitura de um texto. Eu, como bom colono, li “Ritinha” com um erre só, e não “RRitinha” com dois erres.
Bem, nesse dia, ou melhor: nessa noite, o assunto era a colocação do pronome, antes, no meio ou depois do verbo.
Do alto de sua sabedoria, a Professora Pinto começou perguntando para os alunos mais próximos: - Qual a conjugação verbal que admite mesóclise?
Prá quê! Ninguém sabia. Ela, entre irritada e previdente, tomou do caderno de chamada e avisou: - Ganha um ponto quem sabe e perde um ponto quem não sabe.
Foi passando de classe em classe, de um em um: - Qual a conjugação verbal que admite mesóclise?
Ninguém sabia, ninguém respondia. Todo mundo colou as placas. E a Pinto, vai se chegando cada vez mais perto de onde eu tentava sumir-me por baixo da cadeira.
Chegou à minha frente e tascou: - Qual a conjugação verbal que admite mesóclise?
Ficou alguns segundos aguardando a minha resposta, levantou a cabeça, olhou prá mim, me reconheceu e sem mais nem menos: - Ok! Um ponto prá ti Jorge!
Ufa “salvar-me-ei” pela fama de bom aluno.
Mas hoje confesso: Naquela noite eu não sabia a resposta!”