GRITO DE GUERRA

Leandro entrou no escritório de cabeça baixa, escorregou os pés até sua cadeira e desmoronou nela. Os colegas, olhavam de rabo de olho, os mais curiosos o encaravam incrédulos, e os mais corajosos iam perguntar como ele estava, mas a resposta era sempre o mesmo grunhido choroso:

– Anghhhhh.

Magali o centro de atenções do escritório, correu para tentar animar o coitado:

– Leandrinho que cara é essa? Fica assim não. Ó, pega um pedaço do meu Toblerone.

– Anghhhhhhh.

E ela desistiu.

O chefe entrou animado, sem nem fazer ideia do que estava acontecendo:

– Leandro, meu garoto maravilha, os clientes estão chegando para aquela reunião das 11 horas, prepara sua lábia infalível, vamos fechar esse negócio.

– Anghhhhhhhh.

E o chefe teve que chamar outro funcionário.

Os murmúrios, as panelinhas começaram a se formar:

– Mas o que aconteceu com o Leandro? Nem parece a mesma pessoa.

Alguns diziam:

– Ouvi falar que a mulher traiu ele – afirmou confiante um.

– Besteira, a verdade que os pais dele morreram em um acidente de carro – afirmou outro.

– Vocês só estão falando bobagem, a verdade é que o facebook cancelou a conta dele – apressou para afirmar um terceiro.

Leandro foi o assunto da manhã, do almoço e do final da tarde, havia tantas histórias que um informado sentiu a necessidade de se intrometer:

– Olha gente, a verdade mesmo é que ele apanhou feio, levou um cacete, foi humilhado.

Houve uma chuva de “comos assim”?, “quem fez isso”?, “jura”?

O informado continuou:

– Também não acreditei quando fiquei sabendo, parece que o outro cara era metade do tamanho dele.

Os murmúrios cessaram.

Leandro passou por seus colegas, deslizando os pés e murmurando:

– Tcha.... uhnnnn......

Os murmúrios evoluíram para conversas mais exaltadas, mas Leandro não estava mais perto. Pegou seu carro e foi para casa. Lá, ele encontrou sua mulher na cozinha:

– Deus do céu ainda desse jeito! Ânimo, força! Até quando vai ficar deprimido! – enfatizou ela.

– Anghhhhhhhhhh.

E ela deu de ombros e foi tomar um banho.

O filho de Leandro entrou pela porta animado, carregando sua mochila da escola.

– Pai! Pai! Comprei um jogo novo na steam: – vamos jogar!

– Anghhhhhhh.

– Vai pai, ânimo, é o novo Street Fighter.

– Hum!

O fogo nos olhos de Leandro ardeu novamente.

– Ah! Essa você não ganha de mim, eu era campeão de Street Fighter no Fliperama do Shopping! Pega o controle, vou ensinar como se joga!"

No próximo dia no trabalho, Magali se aproxima da mesa onde está Leandro:

– E aí? Tá se sentindo melhor?

– Anghhhhhhhhh.