AS CINZAS DA CREMAÇÃO
AS CINZAS DA CREMAÇÃO
Dr. Antônio Mesquita Galvão
Me. em Escatologia
Nos últimos dias de outubro o mundo católico foi sacudido por notícias a respeito de um documento, Adresurqendum. cum Christo, originário de Roma que proibia a cremação dos mortos e ordenava que seus ministros se abstivessem de realizar o rito das exéquias (a encomendação) para os católicos que assim procedessem.
Depois, olhando mais atentamente a Instrução da CDF (Congregação para a Doutrina da Fé) foi possível notar que o texto repete muita coisa que já se sabia desde "De cura pro mortuis qerenda' (O cuidado devidos aos mortos) escrito por Santo Agostinho, na Idade Média (ano 421). Nessa obra o Doutor de Hipona esclarece: “Sacrifícios e orações pelos mortos só fazem sentido se os defuntos viveram de modo a merecer tirar proveito de tais atos”.
Aprofundando ainda mais a leitura do texto da Congregação (ex-Santo Oficio, ex-Inquisiçào) mencionado, observa-se que as “proibições” que foram relacionadas pela mídia secular (e sensacionalista) a respeito da cremação e da não-realização de exéquias aos que desejarem jogar suas cinzas na natureza (mar, ar ou terra) se referem a eventos que atentem contra dignidade do corpo humano ou outros fatores que contrariem a fé católica. Esse respeito à corporeidade do ser já fora preconizado na obra agostiniana aludida acima. Recordo que quando estudei Escatologia (parte da teologia que estuda a vida depois da morte) havia ali uma disciplina chamada “corporeidade” que afirmava que J
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Corporeidade é um conceito fundamental da antropologia teológica. Trata-se da própria condição humana do corpo. Corporeidade, diversamente de corpo, quer superar a discussão clássica da relação corpo-alma, para evidenciar o caráter do corpo na sua integridade humana, que determina mesmo a subjetividade humana e os seus comportamentos, Para que se tenha uma noção mais clara de ressurreição - até onde nos permitir nossa limitação - é importante que se conheça alguns fundamentos daquilo que chama corporeidade. Quando o Coélet diz,' I
Na vida há um tempo para cada coisa; tempo para nascer e tempo para morrer (Ecl3, 2) .
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esse morrer não, significa, de modo algum, um fim ou uma perda total, mas uma simples transformação do corpo, que se otimiza, para viver com, a 'alma, na glória. Como unidade inseparável, o homem vive, mesmo na morte, a totalidade de suas dimensões. Nisso há uma unanimidade entre as teologias Católica, Protestante e das Igrejas Orientais.
Na antropologia platônica - seguida pelo espiritismo kardecista moderno- há como que um desprezo ao corpo. Homem sábio - segundo PIatão - é aquele que prepara a libertação de seu espírito, deixando de lado o corpo, que só atrapalha. A isto o platonismo dá o nome de soma-sema (onde o corpo / soma é prisioneiro / sema). O kardecismo despreza o corpo após a morte; pois na reencarnação o que vale é o espírito que vai animar outro (s) corpo (s). Soma-sema aponta para uma realidade platônica em que o corpo é a sepultura (da alma) do ser.
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Para compreendermos a corporeidade - valemo-nos de uma comparação feita por R. J. Blank (nascido em 1936), meu professor de Escatologia, entre o ser humano e um computador. No computador temos o software (os programas) e o hardware (a máquina em si). Mesmo assim, para funcionar é necessária a energia da tomada. Sem essas coisas, o computador perde sua funcionalidade. Quanto ao homem ocorre algo semelhante. Ele tem suas realidades psíquicas que ocorrem no corpo, na alma e em suas emoções. Se separarmos, o material do espiritual, e desprezarmos a energia (a graça divina) jamais teremos um homem completo. É aquela história do cachorro. Se eu o corto no meio, não tenho dois, dois meios nem tampouco um. Não tenho nada. Assim ocorre se tentarmos dividir a realidade humana (in: A. M. Galvão. “O Grão de Trigo. Reflexões Cristãs sobre a Vida depois da morte”. Ed. Ave-Maria 2000 – Minha Tese de Mestrado).
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Isto vem ao encontro da propriedade da equação tomista, onde "homem igual a corpo mais alma mais graça divina". Corpo e alma são inseparáveis. O ser humano vai ressuscitar não só com sua alma, mas em corpo-e-alma. A antropologia bíblica não possui nenhum dualismo ontológico. Ali não se faz distinção entre um elemento mortal (o corpo) e um elemento imortal (a alma). O ser é uma unidade, uma realidade concreta que abrange o homem por inteiro. Há uma unidade e não um sistema binário.' Mesmo no judaísmo do Antigo Testamento se observa uma tendência a considerar o homem por inteiro. Na basar (carne) ele é solidário; na nefesh (garganta, por onde respira e penetra o sopro vital) e na ruah [espírito] ele tem ligação (aberto a) com Deus. Na antropologia paulina - a mais complexa 'da Bíblia - o ser é igualmente uma realidade indivisível.
Corporeidade é um conceito fundamental da antropologia teológica. Nesse aspecto, observa-se a corporeidade como um estudo teológico iluminado, em parte, pela filosofia fenomenológica de M. Scheler († 1928), G. Marcel († 1973) e J. P. Sartre († 1980). Enquanto corpo indica, antes de tudo o estado a posteriori do homem, corporeidade indica um estado originário, do homem uno e completo, sobre o qual só transcendentalmente se pode refletir. Nessa conformidade, não se emprega corpo, mas corporeidade.
Por esse motivo se diz que à corporeidade, não é apenas uma condição provisória do homem. A espera escatológica da salvação conhece um aperfeiçoamento do homem uno. e completo. Na ressurreição da carne (que, ultrapassa o corpo original), o corpo humano, como o   [soma-pneumaticós = corpo 'espiritual) de são Paulo (cf. 1Cor 15, 44), tornar-se-á lugar da revelação total e da plena atualização da salvação, que veio amadurecendo sobre a terra. Nessa revelação se manifestará, definitivamente, o amor de Deus. I
Assim,  soma, não é apenas uma condição externa do homem, mas a realidade única e profunda do ser humano. O homem – repito- não possui corpo; ele é corpo. O corpo, nesse aspecto, retrata a realidade do homem completo. Para tornar-se espírito humano perfeito, ele deve se.tornar sempre mais corpo. Da sua integridade humana, rigorosamente afirmada, resultam dois, importantes dados antropológicos: a) na sua origem corpórea, o homem provém todo de uma relação procriativa universal, comum às criaturas e também na mesma medida tem Deus como origem; b) devido ao caráter totalmente humano, o corpo é sempre manifestação do homem completo; é aquela “expressão-símbolo” a que alude-K. Rahner († 1984), a “interioridade que se abre” de R. Guardini (t 1968). No corpo encontra-se não apenas um agregado material, mas a, aparição do único homem completo (in: Dicionário de Teologia; cf. K. Rahner, Philosophie und Philosophieren ir der Theologie, in Schrifteri zur Theologie VIU, Eins., 1967; cf., R. Guardini, Der Glaube die Gnade und das Bewusstsein der Schuld, Mainz, 1935; M. Heidegger, Sein und zeit; K. Koch, Was ist Formgeschichte?,Nue., 1967.
A esse respeito, é oportuna a palavra de M. Schmaus (†1999):“Não há nenhuma declaração do Magistério que defina obrigatoriamente a morte como separação do corpo e da alma. As declarações oficiais querem garantir a continuidade da vida do homem para além da morte, mas não afirmam expressa e formalmente que esta vida deva ser entendida exclusivamente como imortalidade da alma espiritual” (in: Der Glaube der Kirche, Mun. 1970). Sob o enfoque da corporeidade, é salutar observarmos que Cristo usou seu corpo ressuscitado como identidade para o mundo e para todos os tempos. Além de se apresentar ressurrecto, mostrou seus ferimentos, alimentou-se. O Filho de Deus se fez corpo para solidarizar- se com aqueles que padecem no corpo as chagas do egoísmo alheio. Pelo mistério da corporeidade é que se deve uma imponderável dignidade ao corpo humano, pois vamos ressuscitar com ele. Claro que não exatamente' o mesmo corpo, mas um corpo novo, cuja essência tem identidade com o primeiro. Por uma questão de identidade da massa atômica, moléculas e carbonos, o corpo ressurrecto tem origens no corpo terreno, independente tenha sido ele corrompido na sepultura, incinerado (cremado), perdido no fundo mar (cf. Ap 20,13), triturado pela tortura ou devorado pelas feras. Esse corpo vai ser recomposto para se juntar à alma purificada e voltar àquela unidade humana que verá a Deus.
É útil lembrar a antropologia de Santo Tomás: a alma é a forma animada do corpo e o corpo a forma concreta da alma. Ambos se convêm como alma que é princípio de formalização, e corpo como forma jacta. A compenetração é tão essencial e unitária que o corpo possui a forma da alma de tal modo que "quem vê o corpo vê a alma" Então a alma não é uma região ou princípio secreto, mas o olhar que anima os olhos, o riso' ou o pranto que animam o 'rosto, a caridade que cria .mãos e pés, etc. Paradoxalmente, como na relação entre olhos e olhar, o invisível é visível no corpo. Mas o corpo é criação, plasticidade, forma e figura em processo de configuração corpo sempre em nascividade e não só em mortalidade, graças à alma que o anima [in: L. C. Susin. Assim na terra como no céu. Ed. Vozes, 1985).
Embora sua teologia fosse de primeira linha e inspirada pelo Espírito Santo, São Paulo pagou tributo a certa.pobreza de vocabulário e de idéias, comuns às línguas antigas, ao descrever a ressurreição. Assim como o autor sagrado que narrou a criação do homem a partir do barro, elemento sólido mais conhecido naquela época, também a antropologia paulina esbarra em certas limitações lingüísticas. Em face disso, ele retrata a ressurreição através de um paradoxal “corpo espiritual”. Como é esse corpo espiritual? Não se sabe, é mistério; só se especula, mas há pistas. É uma realidade integral, do corpo e da -alma levados à perfeição.
Como afirmou Santo lreneu de Lyon († 200) “a glória de Deus é o homem vivo”, deste modo, ao ressuscitar o homem, Deus o realiza ao exemplo de Cristo, corporal e espiritualmente. É a ressurreição de Cristo que possibilitou a glória do homem que se diviniza na' escatologia. Em Cristo, disse São Paulo, habita - corporalmente - (somatikós) toda a plenitude da divindade (cf. Cl 2., 9). Com o corpo espiritual, o homem se revela escatologicamente, ou seja, está pronto para viver a eternidade, onde participa da ubiqüidade de Deus. O mistério envolve toda uma transformação. Na morte nossa vida não é tirada, mas transformada. Desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.
Nós sabemos, quando a nossa morada terrestre, nossa tenda, for desfeita, receberemos de Deus uma habitação no céu, uma casa eterna, não construída por mãos humanas. Por isso suspiramos neste novo estado, desejosos de revestir nosso corpo celeste (2Cor 5,1s).
A nossa fé, embasada na ressurreição de Cristo e na elaboração do princípio da corporeidade, nos dá o suporte capaz de garantir aquela certeza de que na morte nosso corpo mortal será revestido de imortalidade mantendo a unidade definitiva: de um lado a alma purificada e de outro o corpo cristificado.
Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou Cristo dos mortos mudará a vida também para os corpos mortais de vocês, por meio do seu Espírito que habita em vós (Rm 8,11).
A otimização (Cristificação, para usar um termo de T. Chardin) do corpo material toma-o diferente. Primeiro ele é revestido de perfeição, imortalidade e maturidade. Dele será tirada toda a limitação. Por causa dessa maturidade, um feto de três meses, um deficiente físico e um ancião de noventa anos, terão corpos semelhantes. Embora guarde a mesma essência (não é um segundo corpo), pela perfeição que lhe é impressa, o corpo toma-se diferente.
Jesus não foi reconhecido por Maria Madalena - recordam? - mas confundido com o jardineiro (cf. Jo 20, 11-16); ela só o reconheceu pela voz; o casal que voltava a Emaús, que viram nele um forasteiro (cf. Lc 24, 13-35); eles só o reconheceram quando ele partiu o pão; e por seus amigos à beira do lago (cf. J o 21, 1-11). Ali eles só o reconheceram por causa do milagre. O corpo espiritual é o prolongamento, a otimização, uma nova realidade transformada de nosso corpo animal:
De fato, é necessário que este ser corruptível (corpo físico) seja revestido da incorruptibilidade (corpo espiritual) e que este ser mortal seja revestido de imortalidade' (lCor 15, 53).
O corpo material é animado pela psiké, que é o princípio organizador da vida biológica (cf. Gn 2, 7). O corpo espiritual será aquele que vai substituir, pela transformação da morte, nosso antigo veículo carnal. Essa nova natureza será de conformidade com a existência após a morte.
Enquanto um, o soma psíkicon, por carne corruptível, é destinado à decomposição. É o corpo que viveu a vida terrena. O outro, o soma pneumatikós, por criação de Deus para a eternidade, é espiritual, definitivo e diverso do anterior, que irá substituir nossa realidade carnal.
Igualmente a alma psíquica, psiké, aludida por Paulo (cf. 1Cor 15, 44), de cunho helenista, refere-se mais a, uma porção do pensamento humano que se esvai com a morte, ao passo que o espírito, pnêuma, é a essência imortal, sintonizada com o Espírito de Deus. O corpo físico (sarx) é acidente e a alma-espírito (pnêuma) é essência.
Na Teologia Moral aprendemos entre as “obras de misericórdia” (corporais) a obrigação de sepultar os mortos... (cf. Cat. 2447). Sepultar, modernamente não aponta tão-somente para o ato de colocar os defuntos numa sepultura, mas dar aos seus despojos um destino digno e honorável seja debaixo da terra, num nicho de concreto ou em outra forma ou local que se refira a uma atitude de respeito. Ou pelo menos não caracterize um desrespeito à dignidade do corpo criado por Deus.
A questão da cremação (instrução da CDF).
4. Onde por razões de tipo higiênico, econômico ou social se escolhe a cremação; escolha que não deve ser contrária à vontade explícita ou razoavelmente presumível do fiel defunto, a Igreja não vê razões doutrinais para impedir tal práxis; uma vez que a cremação do cadáver não toca o' espírito e não impede à onipotência divina de ressuscitar o corpo. .
Por isso, tal fato, não implica uma razão objetivo que negue a doutrina cristã sobre a imortalidade da alma e da ressurreição dos corpos. A Igreja continua a preferir a .sepultura dos corpos uma vez que assim se evidencia uma estima maior pelos defuntos; todavia, a cremação não é proibida, "a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã". Na ausência de motivações contrárias à doutrina cristã, a Igreja, depois da celebração das exéquias, acompanha a escolha da cremação seguindo as respectivas indicações litúrgicas e pastorais, evitando qualquer tipo de escândalo ou de indiferentismo religioso.
O impedimento por “razões contrárias à doutrina cristã” aponta para os argumentos contrários à fé na ressurreição (quero destruir meu corpo, após a morte, porque não acredito em vida posterior!), como uma negação de que o corpo será resgatado por Deus, além de outras práticas e/ou superstições espiritualistas (meu espírito vai reencarnar em outro corpo!) ou esotéricas (algumas formulações da “Nova Era”) em que é afirmado que as cinzas devem ser jogadas na natureza, naquele panteísmo pouco racional, em que há um “eterno retorno”, do tipo “sou fruto (emanação) da natureza e para ela devo voltar”. É condenável nesse caso, atitudes sectárias por ódio contra a religião e à Igreja.
Em paralelo com a instrução da CDF ora em exame, se formos olhar o fundo da questão, é possível constatar. que além de um exacerbado zelo pastoral, a Igreja exarou esse documento (não dogmático) talvez atendendo ao lobby dos cemitérios da Europa (a maioria vinculada a instituições religiosas), pois lá os enterros caíram cerca de 84% nos últimos dez anos por causa das cremações. Há aí uma ponderável questão econômica (como sempre) a considerar. Acém disto, não há mais lugar para sepultar pessoas.
Por aqui há a escolha da cremação como medida prática e econômica. Paga-se pela cremação mas fica-se livre de adquirir o jazigo ou de pagar anuidade e outros penduricalhos (taxas semestrais de manutenção, limpeza, vigilância e outras “mordidas”) aplicados pelos cemitérios. Uma senhora da família adquiriu um túmulo (gaveta) por R$ 30 mil e mesmo assim o cemitério, um dos principais de Porto Alegre, envia à família três boletos bancários por ano, a guisa de taxa de “conservação”. Na cremação a despesa' ocorre uma vez só. .
A questão das exéquias dos defuntos cremados
8. No caso do defunto ter claramente manifestado o desejo da cremação e a dispersão das cinzas na natureza por razões contrárias à fé cristã, devem ser negadas as exéquias, segundo o direito. .
Nesse aspecto entendo que uma vez que a pessoa tenha manifestado desejo que seu corpo seja cremado, e observados os critérios de crença, higiene e respeito, nada havendo de contrário à fé cristã a dispersão no mar, em um rio ou em local apropriado da natureza, é lícito o procedimento, desde que esse tenha sido o desejo do falecido. A proibição nesse sentido não é algo absoluto, mas' ligada a razões contrárias à fé já aludidas.
Está certa a Igreja em proibir a manutenção e depósito das cinzas, por inadequado e mórbido nas residências particulares. Conheci uma senhora que tinha as cinzas da mãe em casa, num vaso, e nas festas, aniversário, Natal e outros eventos, trazia o vaso citado para a sala, como se uma pessoa fosse. Isto é inadmissível sob o ponto de vista da moral.
Um padre, cujo nome não recordo, publicou nas redes sociais uma nota – sem o mínimo suporte bíblico ou doutrinário – seu ponto de vista, autoritário e sem dar margem a interpretações colocando a cremação sob suspeita e proibindo, como eu planejei a dispersão das cinzas num local da natureza em Porto Alegre. Foi uma publicação do tipo Roma locuta causa finita.
Inconformado, respondi-lhe que ainda bem que tenho um genro pastor evangélico para fazer a “encomendação” (oração fúnebre) das minhas cinzas antes de serem jogadas no rio Guaíba, no Ipanema, no local pré-determinado. Ademais, as exéquias (o rito da “encomendação” do corpo) são um consolo para a família e em nada contribuem para o destino final do defunto, cujo “passaporte” para o céu foi adquirido nesta vida por sua fé agregada às suas boas obras. Sabedor dessa minha manifestação, recebi de um amigo: “Se o seu genro não puder fazer sua encomendação, conte com meus serviços, de um padre-religioso-rebelde”. Outro padre, também no grande auditório das redes sociais afirmou que os corpos dos mortos pertencem à Igreja. Outro equívoco. A alma pertence a Deus, o corpo embora merecedor de dignidade, pertence à família e é destinado à decomposição. No final, sobre esse assunto, respiguei um interessante comentário do conceituado teólogo espanhol Xabier Pikaza sobre a instrução vaticana em tela:
Sobre el documento de la Congregación para la Doctrina de la Fe sobre la Sepultura de los Difuntos (Ad resurgendum cum Christo) tenqo mis reservas ante el documento sobre "las cenizas de los muertos'. Éste era buen momento de tratar a los vivos, y no de los difuntos. Veneramos a un hombre cuya memoria no se encuentra vinculada con un cementerio. Es como si el Papa fuera por un lado (quiere ayudar los vivos, en la línea de Mt 25, 31-46 y sus obras de misericordia), pero ellos, los de la Congregación, van a lo suyo y se ocupan de los muertos de su rebatia creuente", (in: Religión Digital. Xabier Pikaza, 27 de octubre de 2016).