CRÔNICAS DA TARDE - ALMAS INCANDESCENTES - Reginova Godaninsky
São dezenove horas. A chuva cai inclemente por toda a cidade. O frio é enregelante, penetrando sob as roupas mais grossas.
Enquanto o carro passa, os jovens que estão lá dentro vão espreitando as marquises e as calçadas onde possam encontrar alguém.
São cinco pessoas ao todo. A passageira que vai ao lado vê ao longe um vulto e indica onde o carro deva parar.
O motorista busca um lugar para estacionar e imediatamente iniciam a tarefa daquela noite.
Eles não conversam muito. Há muito trabalho a ser feito.
O carro é estacionado e todos saltam ao mesmo tempo. Retiram do porta-malas os colchonetes, cobertores e garrafões térmicos, as caixas-térmicas e os copos.
Só ali naquela calçada são quatro pessoas deitadas quase que no chão, tendo em vista que os papéis estão rasgados.
Alguns dormem, quase num desmaio; outros estão mais despertos e muitos mal conseguem sentar, necessitando de ajuda.
Silenciosamente vão distribuindo toda a coleta do dia. Colocam os colchonetes e cobertores no lugar dos jornais e papelões. Os que estão rasgados são jogados no lixo e colocam numa pilha aqueles que ainda têm serventia.
Após cuidarem daquelas pessoas e conversarem um pouco, dando o conforto enquanto trabalham, juntam os papelões e levam para o carro, pois sabem que antes do final do trabalho vai faltar material para alguém e os papelões continuarão a ter serventia.
Terminam ali e seguem pela cidade. Agora estão mais felizes e falantes. Suas ALMAS INCANDESCENTES acenderam uma chama de esperança em alguém.
O quanto vai durar aquele ato ninguém sabe, mas quem a faz a contabilidade está olhando tudo. E isso é que importa.
12/11/2016 - 16:37 h