SONHO DE MAE

Tudo combinado com a diretora e amigos, eu queria de certa forma realizar o sonho de minha mãe de ser professora.

Eu usei uma mentira branca com a minha mãe e ela foi comigo para a escola onde eu lecionava.

Fiquei impressionada como minha mãe estava bonita!

Deveria soltar mais vezes os cabelos e maquiar o rosto deixando a mostra aquela cova no queixo que eu tanto queria ter.

Pois bem. Falei a ela que eu precisa de ajuda para carregar umas caixas de livros para casa. Então foi fácil levá-la para minha sala de aula.

Era uma turma de adolescentes, daquelas bem disciplinadas. Logo que entramos a apresentei e começou o meu plano.

“Bom dia pessoal. Com nesta semana estamos comemorando a Semana Cultural Brasileira, quero apresentar a vocês a Maria, ela é contadora de histórias e veio falar um pouquinho para vocês do que eu cresci ouvindo. Isso mesmo, Maria é minha mãe!”

Todos se levantaram e aplaudiram. Minha mãe quase desmaiou, mas dessa vez ela não chorou! Respirou fundo enquanto eu passava meu jaleco para ela e agiu como se aquele cenário, sempre estivesse ali esperando por ela.

Ninguém percebeu que eu saia de fininho, tampouco reclamaram minha falta. Fiquei escondidinha por detrás da porta, nariz colado no vidro, orgulhosa do meu feito.

Professores curiosos vinham ver o que estava acontecendo

e me parabenizavam. Minha mãe estava realizando o sonho dela.

Durante a semana toda eu vi dois cenários diferentes na minha vida: de um lado minha mãe cantarolando aquelas músicas de meu tempo de criança e do outro lado, lá na escola, um alvoroço porque as outras salas também queriam ouvir histórias. O que mais nos deixava ao mesmo tempo felizes e perplexos, é que os alunos eram de classe alta, o que dava a impressão de que tinham mais acesso em casa quanto a cultura oral e escrita.

Houve tanto burburinho, que fizeram uma reunião conosco, entrei meio ressabiada, pensei vou levar uma bronca com certeza, por ter trazido minha mãe para contar histórias.

A diretora foi logo justificando o convite para termos com ela Dali em diante, tanto minha mãe quanto as outras voluntárias, estavam convidadas a estarem com os alunos uma vez por semana no contra turno para ouvirem histórias. Todos nós professores demos um grito de alegria e nos abraçamos pulando. Parecia sermos nós as crianças.

Contudo, disse ela, há de ser feito um projeto e encaminhado formalmente para a direção, isso com certeza vocês já sabem fazer a muito tempo, só falta aprenderem a contar histórias com as mães de vocês. Então deixemos que elas façam isso por enquanto. De volta as suas salas, ao trabalho meninas!

Desde então, foi instituído o Dia do Encantamento na escola e minha mãe aperfeiçoou o sonho dela de ser professora primária.

Agora ela era Contadora de Histórias.