Abre aspas: Síndrome do 20 e uns anos (adeus infância)

O tempo voa, como voa. Parece que foi ontem que eu acabava de fazer 15 anos. E hoje eu estou pra lá dos 20. A nossa percepção de mundo começa a mudar, nossos olhos se voltam para outras coisas, nos sentimos diferentes. É difícil explicar.

Você começa a se dar conta que a sua vida já não é mais a mesma: o que fazia antes não te satisfaz mais e a sua busca pela felicidade é cada vez mais corriqueira e contemplativa. Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos. E estranhamente você não se sente mais solitário por causa disso.

Se toca que é cada vez mais difícil vê-los, pois cada um está ocupado em viver a sua vida e inviável organizar um horário por diferentes questões: trabalho, estudo, namorado (a), etc. Vocês divergem em mais coisas e o happy hour com cervejinha é cada vez mais usado como desculpa para conversar um pouco. Além disso, as multidões já não são tão divertidas, às vezes até incomodam.

Começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. E mesmo aqueles que estão distantes, nos fazem tão felizes todo dia. Ri com mais vontade e chora com menos lágrimas e mais dor. Seu coração é partido e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto, pode te achar tão infantil, pode lhe fazer tão mal. Parece que todos os que você conhece estão namorando há anos e alguns começam a se casar e já tem filhos e isso te assusta pois você ainda vive como se fosse um adolescente.

Você percebe que a cada dia que passa começa a sentir que há um vazio em sua vida, que os seus sonhos precisam ser mais palpáveis, que tem que trabalhar para se sustentar. Sair três vezes nos fins de semana lhe deixa esgotado e significa muito dinheiro para ao seu orçamento sempre muito apertado.

Olha para o seu trabalho e suspira de resignação, porque, talvez, não esteja nem perto do que pensava que estaria fazendo. Ou talvez esteja procurando um emprego e seja preciso começar de baixo, o que causa estranheza e medo. Sua graduação lhe consome horas e mais horas e você nem sabe se é isso mesmo que deseja fazer pelo resto da vida. Suas escolhas de hoje definirão como será daqui a 10, 20, 30 anos e você não consegue nem decidir com qual roupa vai sair.

A cada dia você trata de começar a se conhecer, a se entender como ser em construção, sobre o que quer e o que não quer, sobre os seus planos, suas dúvidas, seus medos. Você começar a engavetar muita coisa da infância e a desempacotar a sua maturidade. Suas opiniões se tornam mais fortes, assim como sua personalidade. Sua percepção capta até mesmo o que ficou subtendido nas entrelinhas. Observa muito o comportamento dos outros e se pega julgando mais que antes, enumerando o que não pode ser feito. Seus laços se estreitam ao mesmo tempo que ficam mais frágeis. Suas variações de humor chegam a ser bruscas: em um momento se sente alegre e genial, com uma pitada de invencibilidade... em outras apenas mais confusa e com medo (se tornam raras, mas acontecem).

De repente, como nessa madrugada, você sente insônia e fica nostálgica. Relembra o passado e tenta, em vão, se apegar a ele. Mas aí se dar conta de que ele se distancia cada vez mais e que não há outra opção a não ser viver no presente e pensar no futuro. Você se preocupa com o futuro, a carreira, o empréstimo, as contas, dinheiro.... E ter uma vida para você. Ganhar a carreira seria ótimo, ao invés de competir por ela, pois o que se deseja mesmo é dormir e acordar meio dia.

Sem falar no amor... Você se preocupa em encontrar a pessoa certa, mas parece tão difícil encontrar. Ainda suspira com romances e adora assistir comédias românticas. Deseja casar e ter filhos, pois seria feliz assim. Mas também não quer se precipitar, por isso, apesar da pressão, leva esse assunto em banho-maria, sempre para mais tarde.

Talvez não se der conta que mesmo sem se julgar ser uma escritora, todos os que estão lendo esse texto se identificarão com essas linhas. Todos nós temos “vinte e tantos anos” e gostaríamos de voltar para os 15 algumas vezes. A vida parecia tão tranquila e radiante. Mesmo que naquela época, como agora, só que menos intenso, nossa vida parecesse uma eterna festa e bagunça, todos dizem que é a melhor fase da vida e que devemos aproveitar. Foi ali naquele lugar instável que colocamos o primeiro tijolo para construir o nosso futuro.

Parece que foi ontem que tínhamos 15 e então, num piscar de olhos, teremos 30. Assim tão rápido.

Bem... Só queria desejar um feliz aniversário para alguém muito especial para mim: EU.

Seja feliz!

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 12/11/2016
Reeditado em 12/11/2016
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