A PAGADORA DE PROMESSAS

Dona Jurema, em seus 68 anos, nunca deixara de pagar suas promessas. E não seria dessa vez, aliás, dessa vez é que pagaria com prazer.

Onze meses antes havia prometido para Santa Gertrudes que se seu genro Isaías, casado com sua única filha, deixasse o jogo de baralho, na próxima festa em homenagem à santa compraria um número da rifa do automóvel - como costumeiramente acontecia, e se ganhasse (e iria ganhar) venderia o carro e daria 10% do valor para ser aplicado em melhorias no santuário da mesma.

O genro era uma boa pessoa, trabalhador, bom pai de seus dois netos, mas 80% do que ganhava no mês, ficava na mesa redonda num fim de semana. Maldito vício que incumbia à honrada (e viúva) senhora a arcar com as despesas daquele pobre lar. E fazia já onze meses que Isaías não pegava em um baralho.

E veio a rifa e Dona Jurema comprou um bilhete e ganhou o carro.

– Eu não falei? E vou cumprir a promessa.

Isaías ficou com a responsabilidade de regularizar a documentação e ir buscar o veículo na concessionária.

Na volta, parou no primeiro boteco que encontrou e pediu um trago que foi seguido de outros - costume que não tinha. Não cansava de relatar o feito da sogra querida e admirar o carro. Até pagou bebida para pessoas que nunca havia visto na vida.

Não rodou mil metros e encontrou um poste em seu caminho. Uma perna quebrada, o carro zero em forma de V e o poste um J.

E coube a Dona Jurema assinar a papelada no hospital antes da cirurgia. Coisa de quatro mil. Os 10% da promessa.

E a companhia de energia já está preparando o processo para ressarcimento do poste.