O Sonho Americano
Não sei como será a realidade dos imigrantes nos EUA, muito menos dos negros, desempregados e homeless. O que sei é que os EUA não é mais aquele paraíso, o sonho Americano. Deixou de ser muitos anos atrás.
Meu Pai deixou o Brasil em 1961 em busca de oportunidades. Aqui ele tinha três empregos para sustentar a sua família. Éramos quatro e logo viria mais um, e o meu Pai trabalhava muito para não faltar o necessário em casa. Tudo tem um preço nessa vida. A ida da nossa família para os EUA também teve o seu. Fui criada sem conhecer os bolinhos de chuva das minhas Avós e suas histórias. Não tive Festas Juninas com pés-de-moleques nem paçoca. Cresci numa infância sem Saci e Cuca. Nada de Chacrinha e "Quem quer bacalhau!". Panetone nem sonhar. Quanta coisa do Brasil só fui conhecer quase adulta.
Os anos foram passando e o meu Pai trabalhando para construir uma nova América junto com os americanos e muitos outros imigrantes. A nossa família brasileira fazia parte daquele sonho Americano enquanto inúmeras outras famílias latinas e negras ainda corriam atrás desse sonho, ou sorte. Muitos não queriam trabalhar duro na construção de um novo EUA. Existem Americanos rotulados de 'white trash' (lixo branco) que vivem com apenas o mínimo de tudo, até a dignidade. Os trailer parks ou 'slums' são seus lares e sua crença não está no sonho Americano, nem nos próprios. Se acomodaram na pobreza Americana, que por bem ou por mal, não chega a ser a horrível miséria que existe em outros cantos do mundo.
Em meados dos anos ´70, o meu Pai perguntou ao meu irmão mais velho o que ele queria estudar, o que ele pretendia ser. A resposta do meu irmão, Frank, deixou o meu Pai sem chão. "Não sei. Nem sei se quero estudar. Não sei se vou estar vivo muito tempo." O meu Pai questionou essa resposta e o Frank respondeu: "Os irmãos dos meus amigos e colegas estão voltando em sacos pretos do Vietnam, Pai. Uns voltam como zumbis. Os próximos somos nós. Então, pra que estudar, Pai? O mesmo vai acontecer comigo". Mesmo sendo brasileiro da gema, o meu irmão recebia cartas do Governo e Exército dos EUA que falavam sobre serviço militar e seu recrutamento. Imagine, justo o meu irmão que nem sabia dirigir ainda, nem fumava, muito menos sabia o que era beijar e já estavam querendo colocar uma arma nas suas mãos e mandar ele odiar gratuitamente os vietcongues. Sorte minha ter nascido mulher. O meu Pai conversou com seus amigos e colegas de trabalho e descobriu que a maioria dos imigrantes receiavam que seus próprios filhos fossem ao Vietnam, mesmo se fosse só para patrulhar o território sob proteção dos EUA.
O meu Pai não pensou duas vezes. Em menos de um ano, voltamos ao Brasil. Todos da nossa família fizeram sacrifícios para voltar à terra natal e valeu muito a pena. O meu irmão voltou a sorrir e ser feliz, mesmo longe de todos seus amigos que havia feito durante sua vida.
Hoje, no Facebook, uma ex aluna e colega minha que hoje mora nos EUA, postou sua indignação com a vitória do Trump. Ela, assim como o marido, são imigrantes, o que deve incomodar muito seus vizinhos Americanos. Levam uma vida boa, bem melhor se estivessem aqui no Brasil ou na Jamaica com certeza. Ela é branca, o marido um jamaicano negro e os três filhos são mulatos nascidos nos EUA onde não há mulatos, pardos e pretinhos, só existe o negro e isso deve realmente deixá-la preocupada por causa do preconceito que é grande, principalmente em cidades de Virginia. Comentou que penduram/enforcam bonecos de crianças negras na cidade onde mora e que seus filhos não entendem. É realmente triste mas a vida é cruel e madrasta muitas vezes. Ou será que ela esperava uma vida de mar de rosas ao lado de um marido imigrante e negro e seus três filhos negros numa cidade pacata no sul dos EUA que um dia lutou para preservar a escravidão?
O Trump é o novo presidente, queira ou não. Será que as portas vão começar a fechar para os imigrantes? Uma certeza eu tenho: o Americano quer sua terra de volta, seus empregos e seu orgulho. O Americano quer sonhar 'The American Dream', Made in USA pelos Americanos para os Americanos.
Ou será que tem receita para agradar a todos?
Não sei como será a realidade dos imigrantes nos EUA, muito menos dos negros, desempregados e homeless. O que sei é que os EUA não é mais aquele paraíso, o sonho Americano. Deixou de ser muitos anos atrás.
Meu Pai deixou o Brasil em 1961 em busca de oportunidades. Aqui ele tinha três empregos para sustentar a sua família. Éramos quatro e logo viria mais um, e o meu Pai trabalhava muito para não faltar o necessário em casa. Tudo tem um preço nessa vida. A ida da nossa família para os EUA também teve o seu. Fui criada sem conhecer os bolinhos de chuva das minhas Avós e suas histórias. Não tive Festas Juninas com pés-de-moleques nem paçoca. Cresci numa infância sem Saci e Cuca. Nada de Chacrinha e "Quem quer bacalhau!". Panetone nem sonhar. Quanta coisa do Brasil só fui conhecer quase adulta.
Os anos foram passando e o meu Pai trabalhando para construir uma nova América junto com os americanos e muitos outros imigrantes. A nossa família brasileira fazia parte daquele sonho Americano enquanto inúmeras outras famílias latinas e negras ainda corriam atrás desse sonho, ou sorte. Muitos não queriam trabalhar duro na construção de um novo EUA. Existem Americanos rotulados de 'white trash' (lixo branco) que vivem com apenas o mínimo de tudo, até a dignidade. Os trailer parks ou 'slums' são seus lares e sua crença não está no sonho Americano, nem nos próprios. Se acomodaram na pobreza Americana, que por bem ou por mal, não chega a ser a horrível miséria que existe em outros cantos do mundo.
Em meados dos anos ´70, o meu Pai perguntou ao meu irmão mais velho o que ele queria estudar, o que ele pretendia ser. A resposta do meu irmão, Frank, deixou o meu Pai sem chão. "Não sei. Nem sei se quero estudar. Não sei se vou estar vivo muito tempo." O meu Pai questionou essa resposta e o Frank respondeu: "Os irmãos dos meus amigos e colegas estão voltando em sacos pretos do Vietnam, Pai. Uns voltam como zumbis. Os próximos somos nós. Então, pra que estudar, Pai? O mesmo vai acontecer comigo". Mesmo sendo brasileiro da gema, o meu irmão recebia cartas do Governo e Exército dos EUA que falavam sobre serviço militar e seu recrutamento. Imagine, justo o meu irmão que nem sabia dirigir ainda, nem fumava, muito menos sabia o que era beijar e já estavam querendo colocar uma arma nas suas mãos e mandar ele odiar gratuitamente os vietcongues. Sorte minha ter nascido mulher. O meu Pai conversou com seus amigos e colegas de trabalho e descobriu que a maioria dos imigrantes receiavam que seus próprios filhos fossem ao Vietnam, mesmo se fosse só para patrulhar o território sob proteção dos EUA.
O meu Pai não pensou duas vezes. Em menos de um ano, voltamos ao Brasil. Todos da nossa família fizeram sacrifícios para voltar à terra natal e valeu muito a pena. O meu irmão voltou a sorrir e ser feliz, mesmo longe de todos seus amigos que havia feito durante sua vida.
Hoje, no Facebook, uma ex aluna e colega minha que hoje mora nos EUA, postou sua indignação com a vitória do Trump. Ela, assim como o marido, são imigrantes, o que deve incomodar muito seus vizinhos Americanos. Levam uma vida boa, bem melhor se estivessem aqui no Brasil ou na Jamaica com certeza. Ela é branca, o marido um jamaicano negro e os três filhos são mulatos nascidos nos EUA onde não há mulatos, pardos e pretinhos, só existe o negro e isso deve realmente deixá-la preocupada por causa do preconceito que é grande, principalmente em cidades de Virginia. Comentou que penduram/enforcam bonecos de crianças negras na cidade onde mora e que seus filhos não entendem. É realmente triste mas a vida é cruel e madrasta muitas vezes. Ou será que ela esperava uma vida de mar de rosas ao lado de um marido imigrante e negro e seus três filhos negros numa cidade pacata no sul dos EUA que um dia lutou para preservar a escravidão?
O Trump é o novo presidente, queira ou não. Será que as portas vão começar a fechar para os imigrantes? Uma certeza eu tenho: o Americano quer sua terra de volta, seus empregos e seu orgulho. O Americano quer sonhar 'The American Dream', Made in USA pelos Americanos para os Americanos.
Ou será que tem receita para agradar a todos?