“O PRECONCEITUOSO”.

             (Crônica).

 

O cidadão trabalha em uma empresa de recenseamento rural, ele viaja de segunda a sexta pelos campos, por lugares ermos; lugares onde nem sempre se acha algo para comprar, ainda que se tenha dinheiro para gastar.

Este cidadão é um individuo preconceituoso, considera-se um machão... Diz-se “homem”, ou em outras palavras se acha melhor que os outros.

Ele é do tipo de marido que a esposa tem que andar na frente, nunca atrás ou do seu lado.

Na sua casa a última palavra tem que ser a sua... Então este homem agora se encontra longe do seu lar, dando então a oportunidade da sua companheira, ou esposa, dá-lhe o chamado troco; ele não pode fazer nada, não pode vigiá-la como de costume.

Onde ele está ele olha para um lado vê mato, ele vê montanhas, nada de uma casa... Um boteco ou coisa parecida; coloca a mão no bolso e tem dinheiro, ele só não tem onde gastá-lo.

De nada adianta agora a sua arrogância, o seu machismo, o seu tão feio preconceito.

Ele sente fome, mas não tem o que comer sequer um riacho ele encontra para saciar a sua sede; o seu telefone celular não funciona... Ele então se desespera, quando adiante ele avista uma casa... Não fica longe dali, ele então ruma para lá.

Chegando a casa ele sente que há pessoas no interior da mesma, ele então bate palmas, logo alguém vem atender; ele logo percebe que se trata de um travesti; ele gela, vem em mente os seus costumes mesquinhos; mas ele olha para o céu e a noite vem perto, as nuvens escuras indicam que logo vai chover.

Agora ele não tem saída; ele então se rende... Ele pede ajuda ao travesti, que o recebe com toda educação e humanidade. Ao entrar na casa ele percebe que são vários que habitam ali; eles o tratam com toda educação e respeito, oferece água para que ele se banhe, lá tem toalhas limpas para que ele seque o seu corpo, após o banho tem o jantar farto na mesa para que ele compartilhe com os moradores daquela casa.

O homem continua preocupado, ele chega até suar frio, ele jamais esteve metido em semelhante situação.

Ali ninguém o molesta ou lhe falta com o respeito, encontra uma cama limpa e lençóis macios para dormir; ele dorme o sono dos justos e só acorda de manhã.

Ao amanhecer ele pega as suas coisas para seguir o seu caminho, quando lhe é doado comida para alimentá-lo no caminho.

O homem envergonhado de si mesmo agradece, e segue o seu rumo... Cabisbaixa e pensativo... Dali em diante este homem jamais teceu um comentário maldoso contra quaisquer pessoas ou coisas que ele sempre abominou.

Ainda que você conheça a veracidade das coisas, você nunca deve julgá-las; tudo no mundo está certo para quem as faz, não serei eu nem você a palmatória do mundo. Eu penso assim.

(Caros amigos e amigas leitores (as), e colegas, com este texto eu não estou querendo fazer apologia a nenhuma opção moral, intelectual ou sexual; simplesmente eu quis mostrar que se pode conviver com quaisquer costumes diferentes dos nossos, basta ter tolerância e respeito pela escolha alheia).