Faz dois meses que pintei meu cabelo de azul

Faz uns dois meses que pintei meu cabelo de azul.

Todo mundo dizia “agora você vai começar a perceber quantas pessoas de cabelo colorido existem por aí”

Mas ninguém disse que agora eu ia começar a perceber quantas pessoas julgam com olhares e expressões um cabelo azul.

Faz dois meses que pintei meu cabelo de azul e de lá pra cá eu percebi como a sociedade critica e julga das maneiras mais sutis aquilo que é considerado esteticamente fora do padrão. Sou um homem branco, magro, e portanto esteticamente imperceptível aos olhos da sociedade. É de se impressionar como algo tão simples como pintar o cabelo de uma cor não natural é um divisor de águas entre comentários positivos e depreciativos, vindo desde estranho até de pessoas mais próximas de você.

Se eu fosse uma pessoa distraída (o que sou de fato em alguns momentos) eu nem perceberia todos os olhares de reprovação, que geralmente vem de homens brancos, héteros, entre 45 e 60 anos. Mas eu gosto de observar as pessoas. No começo eu deixava que olhassem, porque eu me sentia (e ainda me sinto) bem com o cabelo assim. As vezes retribuía os olhares de desaprovação, o que na maioria dos casos causava uma sensação de constrangimento no indivíduo, que o levava a desviar o olhar. Mas tem dias que você está tão cansado dos problemas importantes da sua vida – como a louça que você não lavou, os textos da graduação ou o planeta girando a milhares de quilômetros por hora – que aqueles olhares começam a te incomodar, aqueles julgamentos começam a te incomodar.

E então você para e pensa “eita, será que eu estou desrespeitando alguém pintando meu cabelo de azul?” e a resposta é sim, está. Desrespeitando os valores falaciosos e infundáveis de pessoas que não se sentem incomodadas pelo cabelo azul, mas pela sensação de desconforto que ele provoca nelas mesmas, pela angústia ou desejo reprimido de poder se expressar da forma que quiser, e isso machuca. Ninguém quer ver suas próprias falhas e incapacidades apontadas por terceiros, e um cabelo azul faz isso.

Tudo o que eu peço é um pouco mais de empatia, afeto e autoconhecimento pra deixar que essas pessoas que queiram ter o cabelo da cor que quiserem, possam ser felizes com o cabelo da cor que quiserem. Sem críticas, sem olhares de reprovação porque “não se encaixam no padrão da sociedade”. Que tipo de padrão? Que sociedade? A minha? A sua? A do senhor da padaria? Se te incomoda vá resolver isso com você mesmo, se coloque no lugar do outro, aprecie o bem estar de alguém, espalhe mais energias positivas pelo universo, que eu e meus cabelos azuis vamos aproveitar tudo aquilo que merecemos, junto com todos aqueles e aquelas de cabelos pintados.

Lucas Michelani
Enviado por Lucas Michelani em 09/11/2016
Reeditado em 09/11/2016
Código do texto: T5817679
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