assim ou... nem tanto 70
O Poeta
O poeta é um tipo parecido com toda a gente. A bem dizer nem mesmo com “papillon” se identifica. Só difere porque muitas vezes parece que olha para nada e está a seguir, atentamente, a luz, o insecto, o movimento de um quê fundamental. Se for dos que escrevem com rima e métrica dão mais nas vistas porque trazem o ar de quem procura alguma coisa difícil de encontrar. A rima faz-se desejada, rogada, escondida. A métrica põe o tipo a usar os dedos, a olhar sem ver, a perder a capacidade de se integrar melhor. – Não é muito certo… escreve versos, dizem os que andam na mesma rua. Escrever versos é como querer voar no pensar do povo. São gente estranha, vivem com outros horários, dão-se com cães e gatos, param para ver nicas ou seguem alheios ao principal da vida. Gostam de sossego e de intimidade. Costumam saber muitos poemas de cor e até empostam a voz na hora de os dizer. Nem todos, diria. Alguns são quase avessos a estar com muita gente, ficam amarrados ao poema que não nasce, irritam-se se o quotidiano se intromete, se o telefone toca… Falo por mim que também sou poeta. Felizmente tenho comigo um menino que ninguém adivinha e esse menino, puxa-me pelos brilhos, grita, protesta, faz-me voltar a ver onde estou com olhos de toda a gente. E vejo, e estou, e canso-me dos amuos e tantas vezes é ele que brinca, que ri, que faz patifarias e irreverências como se fosse eu. Ganhei fama de maluco e adoro ser maluco. Fica-se menos preso, mais à vontade e as pessoas acrescentam tolerância quando queremos coisas difíceis. E riem quando achamos a rima, quando o poema tem jeito, quando a felicidade sai das letras para os olhos.