A REPROVAÇÃO ESCOLAR NÃO INTERESSA A NINGUÉM! ("Cercado de amor não existe reprovação." Leila Boás)
O pior e mais deplorável argumento, a fim de passar à outra série um aluno sem mérito algum, é perguntar ao professor dele: — "Você quer tê-lo novamente como seu aluno no próximo ano...?" Para se ver livre, o professor concorda! Por essas vias, o aluno é incentivado a perturbar mais ainda as aulas, atrapalhando professores e colegas. Descobriram o segredo! Mas, é assim que os coordenadores contribuem com a confecção de índices maiores de aprovação; coitados, também são pressionados de cima para baixo.
A coordenadora de disciplina odeia muito ver o professor sentado à mesa, lendo e corrigindo as redações dos alunos, ou simplesmente escrevendo vistos no caderno deles, tanto que isso é tema em todas as reuniões pedagógicas. E aconselha-nos nervosamente sobre esse momento: — "Devem passar outra atividade no quadro para os alunos nunca ficarem um instante ociosos e evitarem a bagunça". (Como se eles não tivessem outras disciplinas para estudar!). Ora, se os alunos sabem que serão aprovados automaticamente, vão se importar com mais uma tarefa no quadro, valendo os pontos prometidos!? O que esses evitadores de serviço não sabem, é que quando os alunos não querem estudar, tampouco se atentam às suas atividades e nem de uma e nem de outras matérias. Ninguém gosta de professor mesmo, todos usam-nos e abusam da nossa boa vontade!
No início do ano, todos da equipe escolar juntos em uníssono, reafirmamos o voto: — "Vamos aprovar só os alunos dedicados e estudiosos, sejamos rígidos, nossa escola é séria"! Agora, em um passo de mágica, logo o tempo prova o contrário, os bons propósitos mudam, e tornam-se em nada à medida que os projetos de recuperação paralela tentam novamente: feira de ciências e interclasses. De forma alguma, não se consegue mais enganar os alunos; os espertos nunca querem estudar e pronto... Eles continuam usando de todo subterfúgio espúrio para se dar bem. A escola, por sua vez, também tenta lucrar com as situações conveniente e inconveniente. Aqui une a fome com a vontade de comer: o professor quer também se dar bem.
No final, terceiro bimestre em diante, a pressão psicológica aumenta em cima do professor (enquanto deveria ser em cima do aluno), é um assédio moral aqui, outra imoralidade ali, uma falta de ética acolá e assim vamos-que-vamos; contanto que todos os alunos sejam promovidos. A reprovação não interessa a ninguém. Se o professor, por descuido ou por uma expressão de justiça, deixa algum aluno com nota abaixo da média, no final do ano, após a recuperação, quando vai ver, os que mexem no diário eletrônico colocaram a média para este.
Observei também durante o ano letivo que é precisamente no quarto bimestre o aumento das denúncias sobre professores. As mais banais acusações, versando sobre o comportamento moral, espiritual, ético e profissional do professor dentro da sala; questões pessoais e outros assuntos particulares, trato com notas, até o modo do professor se vestir. Porém, o fim é sempre o mesmo, cooptação de nota para conseguir, de qualquer jeito, a aprovação. Tudo isso reforçado ainda mais com a visita de pais "nunca" vistos no ambiente escolar, "barraqueiros" e ameaçadores, aqueles sabedores do endereço da secretaria da educação, e de todos os seus telefones administrativos. Há outros mais educados, simples e descaradamente oferecendo-nos suborno e propina em troca de aprovação dos filhos.
Contudo ainda, falando da dependência curricular, o aluno, por último, será promovido mesmo que fique reprovado em duas matérias, ele nem se preocupa, pois um "trabalhinho" lhe esperará para cumprir o feito. É lógico, o professor de jeito nenhum quer trabalho extra no próximo ano, então é melhor ficar livre de problema agora mesmo! E no final, não é preciso morrer ou matar ninguém!